A experiência de ser atriz : a ambiguidade teatro-vida

Orientadora: Profa. Dra. Joanneliese de Lucas FreitasDissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Defesa : Curitiba, 14/04/2020Inclui referências: p. 104-109Resumo: A arte, experiência fundamentalmente humana, segue gerando discussões e promovendo debates ao longo de toda a história. A psicologia e a filosofia, por tratarem do humano, também se voltam a esse problema. No campo filosófico, a fenomenologia francesa de Merleau-Ponty e Mikel Dufrenne, ao compreender a arte como forma de expressão e a criação artística como modo de o existente responder ao mundo que se apresenta, subsidia a psicologia a pensar a experiência estética, o lugar do artista no mundo e o papel da própria arte. À psicologia que se propõe a fundamentar-se na fenomenologia, resta imprescindível considerar que a expressão e a resposta que o artista dá por meio de sua criação germinam sempre no corpo. Destaca-se, ainda, que em algumas artes o fazer artístico se dá literalmente no próprio corpo: esse é o caso do teatro. Situado, pois, na fronteira entre os três saberes - artísticos, filosóficos e psicológicos - este estudo se propôs a compreender a experiência de ser atriz de teatro, averiguar como a atividade artística expressa seu modo de ser no mundo, além de investigar qual é, para a atriz, a função de sua arte perante o mundo e quais são as relações entre o fazer artístico e o sentido da própria vida. O caminho para chegar a esses objetivos se deu por meio de uma pesquisa qualitativa, sob uma perspectiva fenomenológico-hermenêutica, tal qual sugerida por van Manen. Para isso, foi realizado um estudo de caso referente à descrição da experiência de uma atriz, obtida por meio de entrevista aberta cuja pergunta disparadora foi "como é, para você, ser atriz?". A partir dos dados coletados e no curso da análise dos resultados, que tomou como base a fenomenologia de Merleau-Ponty e de Mikel Dufrenne, emergiram três temas relacionados à experiência. Dois deles dividiram-se em subtemas, quais sejam: 1. ser atriz como condição de ser, 1.1. ser atriz como ser teatro, 1.2. ser atriz como destino, liberdade e situação; 2. ser atriz como potência expressiva, 2.1. corpo como potência expressiva, 2.2. ser atriz como modo de ser no mundo, marca de estilo; 3. (não) ser atriz fora do teatro - conflito teatro e vida real. Concluiu-se que ser atriz de teatro é viver um entrelaçamento fundamental entre a vida e a profissão, de forma que ser atriz se mostrou como sentido e modo de existir no mundo. A especificidade desse fazer diz respeito ao fato de que o próprio corpo é também ferramenta, lugar em que a própria arte acontece e meio pelo qual ela é possível. Como a existência só se dá por meio do corpo, experienciar a vida sendo atriz é indissociável de desdobrar o próprio ser no mundo como existente.Abstract: Art, a fundamentally human experience, continues to generate discussions and promote debates throughout history. Psychology and philosophy, for dealing with human issues, also address this problem. In the philosophical field, the French phenomenology of Merleau-Ponty and Mikel Dufrenne, which understands art as a form of expression and artistic creation as a way for an existing being to respond to the world that presents itself, leads psychology to think about the aesthetic experience, an artist's place in the world and the role of art itself. It remains essential to phenomenologically-based psychology to consider that the expression and response produced by the artist in her or his creation always germinate in the body. It is also noteworthy that in some arts, the artistic production takes place literally in the body itself: this is what happens in theater. Therefore, on the edge of three fields of knowledge - arts, philosophy and psychology - this study aimed to understand the experience of being a theater actress, to investigate how artistic activity expresses her way of being in the world, in addition to investigating the meaning, for the actress, the role of her art in the world and the relationships between artistic making and the meaning of life itself. The path used to reach these objectives was qualitative research, from a phenomenological-hermeneutic perspective, as suggested by van Manen. To this end, a case study was carried out regarding the description of an actress' experience, obtained through an open interview whose triggering question was "what is it like for you to be an actress?". From the data collected and during result analysis, which was based on the phenomenology of Merleau-Ponty and Mikel Dufrenne, three themes related to the experience emerged. Two of them were divided into sub-themes, namely: 1. being an actress as a condition of being, 1.1. being an actress as being a theater, 1.2. being an actress as a destination, freedom and situation; 2. being an actress as an expressive power, 2.1. the body as an expressive power, 2.2. being an actress as a way of being in the world, a lifestyle brand; 3. (not) being an actress outside the theater - conflict between theater and real life. It was concluded that being a theater actress leads to a fundamental intertwining between life and profession; therefore, being an actress proved to be a meaning and a way of existing in the world. The specificity of this action is related to the fact that the body itself also becomes a tool, a place where art itself happens and the means that enables it. As existence only occurs through the body, experiencing life as an actress is inseparable from unfolding one's own being in the world as an existing being entity