Relações pessoa-rua entre construções discursivas e sentidos (inter)subjetivos : implicações psicossociais para a (re)definição de políticas públicas

Dissertação (mestrado) — Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, 2022.Buscou-se neste estudo acessar as (inter)relações pessoa-rua a partir dos sentidos expressados pelos próprios sujeitos que vivem e permanecem nesse contexto. A pesquisa está focada nos posicionamentos (con)textuais entre os sujeitos que moram na rua e o seu respectivo campo sociocultural, com ênfase em como essa relação emerge a partir das representações discursivas deste lugar de encontro. Foram entrevistados dez participantes, das e dos quais cinco atualmente em situação de rua sem intenção de sair e outra/os cinco que tiveram experiência de permanência na rua, mas que já não se encontravam mais nesta condição. O recorte do estudo objetivou, a partir de uma perspectiva socioconstrucionista e cultural-histórica, alcançar os processos que veiculam a permanência na rua sem naturalizar e normativizar as modalidades de (co)construção de significados intra-, inter e extra subjetivos, subjacentes a essa realidade. Foram aplicados métodos e ferramentas qualitativas e quali-quantitativas para a compreensão das coordenadas discursivas. Logo, foram adotados programas informáticos para a análise lexicográfica e lexicométrica das produções (con)textuais, respectivamente o Transana e o Iramuteq. Através da análise do discurso, foram observadas as seguintes categorias: a) Os eventos e elementos que antecederam a condição de viver na rua b) A experiência (inter)subjetiva no contexto de rua e suas coordenadas simbolicas c) A saída ou permanência nesse espaço urbano e sociocultural. Os achados denotam que a rua foi considerada como um espaço físico e simbólico de vida, essencialmente, a partir de três possibilidades: 1) uma situação transitória; 2) um arranjo existencial permeado por diferentes margens de agenciamento; 3) uma reinvindicação identitária de si. Os resultados evidenciaram a necessidade de promover políticas públicas que implementem as representações subjetivas desta população, a fim de ultrapassar um modus operandis exclusivamente ancorado a uma predominante visão assistencialista e patologizante, muitas vezes ineficiente para enfrentar os processos de exclusão e marginalização que so podem ser superados, considerando as motivações (inter)subjetivas de quem encontra, ou para escolha ou para necessidade, na rua uma possibilidade de existência.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).Aim of the current study was to access the street-person relation by considering the subjective means, expressed by whom is living and spending one’s everyday practices within this context. The research has been focused on the (con)textual positioning among people who are living in the street and their respective sociocultural field. Special attention has been paid, therefore, on how such a relation emerges out of a discursive representation about the environment these people are belonging to. Accordingly, ten participants have been involved for the present study: five are currently living in the street, without any intention to leave this situation, while other five have already lived in the street, but achieved to abandon this life-condition. Main goal of the research consisted in accessing, throughout a socio-constructionist and cultural-historical perspective, the dynamics who underly a life in the street, without any attempt to normalise or even naturalise the processes of (co)construction of intra-, inter- and extra subjective means, sustaining such a reality. Either qualitative or quali-quantitative methodologies and investigation tools have been adopted, in order to understand the production of discursive processes. Computer assisted programs such as Transana or Iramuteq have been used for performing lexicographic and text-mining analysis, respectively. Throughout discourse analysis, the following categories have been observed: a) The events and factors anticipating the condition to live in the street; b) The (inter)subjective experience of one’s Dasein within the street, along with its symbolic coordinates and finally; c) The exit out of or the permanence within this urban and sociocultural field. Findings showed that the street could be considered either as a material or symbolic environment, especially due to three possible outcomes: 1) a transitional situation; 2) an existential coping driven by different ranges of agency; 3) a claim of one’s identity. The results highlighted the need to promote public policies by implementing the subjective representations of this population, in order to over an operational practise linked to assistentialism, along with a predominant pathological vision about this reality, often unable to face efficiently processes of exclusion and marginalisation. These conditions can only be solved, whether considering the (inter)subjective motivations of who looks for a possibility of existence in the street, either for a personal choice or existential need