A reprodução da sociedade autoritária entre segmentos estigmatizados: o caso da favela do Coque/Recife

Este artigo discute as diferenciações e desigualdades sociais que repercutem na concretude das espacialidades urbanas brasileiras. O objetivo deste trabalho é descrever o uso interno do conceito de favela dentro de um habitat popular, no caso, a favela do Coque, localizada no Recife-PE. Veremos que internamente o conceito de favela porta uma carga simbólica cujos efeitos se espraiam no uso dos espaços, nas dinâmicas urbanas particulares e organizam a vida das pessoas a partir dos significados atribuídos a essa conceituação. A perspectiva da cidade formal para as áreas de pobreza gera um conceito particular de favela que já foi explorado em múltiplos estudos que abordam a questão urbana e social; no entanto, a categoria interna de favela tem sido pouco evidenciada. Veremos que, no caso aqui estudado, endogenamente se produz uma lógica particular, mas que dialoga com os valores da sociedade mais ampla. Desta feita, pretendemos descrever a espacialidade e dinâmicas urbanas internas da Areinha, uma área específica situada dentro do Coque, esta é reconhecida no Recife como uma das favelas mais perigosas da cidade. Metodologicamente utilizou-se a observação não participante e o discurso dos moradores e das moradoras desta Favela para rever este conceito numa perspectiva interna, e para compreender os seus efeitos nos usos, na organização das espacialidades do lugar e nas interações sociais. A utilização conceitual interna do termo favela reproduz e externaliza as facetas da sociedade autoritária brasileira, que transforma as diferenças e as assimetrias sociais em desigualdades, o que acaba por aprofundar as fissuras socioespaciais