Utilização de modelação atmosférica no estudo de eventos meteorológicos extremos

Os atuais avanços computacionais têm possibilitado o melhoramento dos modelos numéricos e a representação dos processos físicos que ocorrem na atmosfera. No âmbito dos trabalhos do Grupo 1 do ICT-Évora, a modelação atmosférica com o modelo francês Meso-NH tem dado suporte aos estudos de diferentes fenómenos meteorológicos extremos, possibilitando um melhor entendimento dos eventos. Neste trabalho são apresentados dois exemplos baseados em Couto et al. (2020, 2021). O primeiro e mais recente (Couto et al., 2021), está relacionado ao papel da circulação atmosférica no transporte de grandes quantidades de poeiras do deserto do Saara para Portugal em fevereiro de 2017. As simulações incluindo a emissão de poeiras foram realizadas para um domínio horizontal de 3000 × 3600 km e com resolução de 10 km. O uso de modelação numérica permitiu verificar que o episódio foi governado por uma variedade de interações entre a superfície e a dinâmica atmosférica durante vários dias. Os ventos intensos próximos à superfície foram o principal fator para a mobilização das poeiras. Além disso, um sistema de baixa pressão de latitudes médias foi fundamental para a longa duração do evento, bem como para o transporte das poeiras do Saara para Portugal. O segundo exemplo (Couto et al., 2020), baseia-se na aplicabilidade do atual esquema elétrico do Meso-NH (CELLS) na investigação da ignição de incêndios florestais. Neste contexto, o desafio é diagnosticar as descargas elétricas do tipo nuvem-solo (CG) com resolução espacial de 1 km e as regiões onde incêndios florestais poderiam ser iniciados naturalmente. Para tal, a tarde de 17 de junho de 2017 foi considerada para o estudo. O ambiente de trovoada seca configurou um cenário ideal para ignição natural e evolução de alguns incêndios. O incêndio florestal de Pedrógão Grande ocorreu neste período. A distribuição espacial de raios CG simulados apresentou boa concordância com os raios obtidos na rede nacional de deteção de raios, possibilitando assim a aplicação do esquema elétrico no estudo da ignição de incêndios florestais por descargas atmosféricas. Avanços na temática de modelação de incêndios florestais são ainda esperados com os trabalhos que estão a ser desenvolvidos no âmbito dos projetos CILIFO e PyroC.pt