Estudo comparativo de cádmio em sangue e cabelo de populações expostas ambientalmente em áreas industriais na Amazônia, Brasil

Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Instituto Evandro Chagas. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia e Vigilância em Saúde. Ananindeua, PA, Brasil.Um dos maiores problemas que afetam o meio ambiente é a poluição química decorrente das áreas industriais, como a emissão de poluentes atmosféricos que podem gerar efeitos adversos a saúde humana. O cádmio (Cd) é um metal tóxico e bioacumulativo e ainda são raras as pesquisas que abordam os efeitos elemento em relação à saúde das populações que vivem ao redor de áreas industriais. Neste estudo, foi avaliada a exposição ambiental ao Cd na população de duas comunidades das cidades de Barcarena e Abaetetuba, Estado do Pará, a partir da aplicação de inquérito epidemiológico e quantificação dos níveis em sangue (Cd-S) e cabelo (Cd-C). O estudo foi do tipo seccional e abrangeu indivíduos que residem no Bairro Industrial (BIN) (N=186), próximo de indústria de beneficiamento de caulim, na cidade de Barcarena, e Vila de Beja (VBJ) (N=298), distante cerca de 10 Km da área industrial, localizada na cidade de Abaetetuba (grupo controle). As amostragens (N=484) ocorreram entre 2012 e 2013 e foram coletados os materiais biológicos imediatamente após a aplicação do formulário epidemiológico. As análises de sangue (N=469) e cabelo (N=458) foram por Espectrometria de massas acoplado com plasma indutivo (ICP-MS). No sangue, os níveis medianos em BIN (0,43 µg.L-1) foram o dobro de VBJ (0,23 µg.L-1), havendo significante diferença estatística (p=0,010). No cabelo, os níveis medianos de Cd em BIN e VBJ foram muito baixos (≤0,001 mg.kg-1). Foi observado em BIN associação de Cd-C com gênero feminino, não consumo de marisco, água de consumo da rede geral e rinite e, em VBJ, não houve associação entre variáveis explicativas e níveis de Cd-C. O modelo de regressão logística mostrou como principal fator de risco para Cd-S o local de residência, estando os residentes de BIN com 1,5 chances maior de ter níveis de Cd-S>0,6 µg.L-1 (p=0,044). Para Cd-C, os fatores de risco determinantes foram o local de residência e não consumo de peixe, com 2,78 e 8,14 chances, respectivamente, maiores dos residentes em BIN apresentarem níveis de Cd-C acima de 0,03 mg.kg-1. Estas são informações toxicológicas relevantes sobre níveis de exposição ambiental ao Cd em sangue e cabelo na Amazônia e podem contribuir para futuros estudos epidemiológicos em populações brasileiras e de outros países