Raciocínio geográfico no Ensino Fundamental, anos finais : fundamentos teóricos e estratégias didáticas

Tese (doutorado) — Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2021.Esta pesquisa qualitativa teve como principal objetivo verificar se estratégias didáticas pautadas na abordagem dialógica, a partir de diferentes linguagens, contribuem para a mobilização do raciocínio geográfico na construção de conhecimento entre estudantes do Ensino Fundamental, anos finais. Tarefas de resolução de problemas a partir de situações contextualizadas no cotidiano da cultura são, a uma só vez, motivadoras e subsidiadoras do raciocínio geográfico, já que os estudantes se sentem atraídos pela atividade, pois possuem algum tipo de vivência ou conhecimento prévio. Buscou-se uma participação mais ativa dos estudantes, de tal modo que padrões de diálogo mais equitativos pudessem surgir em uma prática socializadora e emancipadora. Nesse sentido, o recurso à pedagogia de Paulo Freire se insere na perspectiva da educação problematizadora, em que todos os sujeitos estão ativamente envolvidos no ato de produzir conhecimento, o que requer padrões pedagógicos espontâneos em lugar de formas canônicas de ensino. Em complemento, a teoria Histórico-Cultural de Vigotski forneceu elementos que permitiram uma maior compreensão do processo de transição do pensamento geográfico ao raciocínio geográfico, entendido como uma forma de pensar a geografia cientificamente, por meio de lógica, hipóteses e deduções para resolver situações-problema que envolvem espacialidade. Optamos por uma aproximação com a Teoria Fundamentada nos Dados, a fim de manter a abertura necessária durante a pesquisa na observação das interações nos processos colaborativos e com enfoque no aspecto ontológico do diálogo entre os participantes. Contamos com a participação de 24 estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental e tivemos o apoio do professor regente, que cedeu suas aulas, em uma escola pública em Brasília, no Distrito Federal. Foram utilizados instrumentos como: grupo focal, questionário, diário da pesquisadora e estratégias didáticas, tais como: saída a campo, desenhos feitos no quadro e no papel, jogo tipo Quiz geográfico e oficina para transformar uma bola de plástico em um globo terrestre. As estratégias didáticas dialógicas foram divididas em episódios, que variaram em quantidade e conforme a dificuldade e complexidade para executá-las. A utilização de grupos focais, ao longo das estratégias didáticas dialógicas, configurou-se importante instrumento metodológico de compartilhamento de ideias e de construção de um raciocínio coletivo. Os dados demonstram que os estudantes tiveram dificuldades em relação aos conhecimentos da Cartografia, tais como: referenciais de orientação e localização, escala e projeções cartográficas. As situações pautadas pelas explicações dadas pelos estudantes aos colegas, o confronto de ideias entre eles e as descobertas e soluções individuais-coletivas sobre temas propostos foram geradoras de pensamento geográfico e do raciocínio geográfico, sendo uma base de conceitos e fatos observáveis de uma prática científica. Os resultados indicam heterogeneidade entre os estudantes quanto ao nível de apreensão dos conceitos geográficos e conhecimentos cartográficos, com os quais tiveram maior dificuldade, o que se deve aos processos de aprendizagem que ainda estão em desenvolvimento. O raciocínio geográfico pode ser compreendido como um espectro em que níveis variáveis de raciocínio estão presentes em prática formal e intencional, a partir do uso de diferentes formas imagéticas de representação espacial para solucionar situações-problema na perspectiva geográfica. Nosso estudo indicou implicações práticas que apontam a relevância de novas pesquisas que aprofundem a investigação sobre o raciocínio geográfico de professores e de estudantes.This qualitative research had as main objective to verify if didactic strategies based on the dialogic approach, using different languages, contribute to the mobilization of geographic reasoning in the construction of knowledge among students of elementary school, final years. Problem solving tasks based on situations contextualized in daily culture motivate and support the geographic reasoning as students feel attracted to the activity, as they have some kind of experience or prior knowledge. A more active participation of students was sought, so that more equitable patterns of dialogue could emerge in a socializing and emancipatory practice. In this sense, the use of Paulo Freire's pedagogy is part of the perspective of problematizing education, in which all subjects are actively involved in the act of producing knowledge, which requires spontaneous pedagogical standards instead of canonical forms of teaching. In addition, Vygotski's Historical-Cultural theory provided elements that allowed a greater understanding of the transition process from geographical thinking to geographical reasoning, understood as a way of thinking about Geography scientifically, through logic, hypotheses and deductions to solve ptoblematic situations involving spatiality. We opted for an approach with the Grounded Theory in order to maintain the necessary openness during the research in the observation of interactions in collaborative processes and with a focus on the ontological aspect of the dialogue between the participants. We had the participation of 24 students from the sixth year of elementary school and had the support of the teacher in charge of the class, in a public school in Brasília, in the Federal District. We used instruments such as: focus group, questionnaire, researcher's diary and didactic strategies, such as field trip, drawings made on blackboard and paper, geographic quiz game and workshop to transform a plastic ball into a terrestrial globe. The dialogic didactic strategies were divided into episodes, which varied in quantity and according to the difficulty and complexity to execute them. The use of focus groups, along the dialogical didactic strategies, became an important methodological tool for sharing ideas and building a collective reasoning. The data show that the students had difficulties in relation to their knowledge of Cartography, such as: orientation and location references, scale and cartographic projections. The situations guided by the explanations given by the students to their colleagues, the confrontation of ideas between them and the individual-collective discoveries and solutions on proposed themes generated geographical thinking and geographical reasoning, being a basis of observable concepts and facts of a scientific practice. The results indicate heterogeneity among students regarding the level of apprehension of geographic concepts and cartographic knowledge, with which students had greater difficulty, which is due to the learning processes that are still under development. Geographical reasoning can be understood as a spectrum in which varying levels of reasoning are present in formal and intentional practice, based on the use of different imagery forms of spatial representation to solve problematic situations in a geographic perspective. Our study indicated practical implications that point to the relevance of new studies to deepen the investigation on the geographical reasoning of teachers and student