Questioning the security-development nexus in post-conflict north Waziristan : a qualitative fieldwork research about reconstruction practices and their impact on societal power and gender relations (2015-2019)

Doutoramento em Estudos de DesenvolvimentoPost-conflict reconstruction is a complex and long-debated issue in the context of conflict, security and development discourse. The socio-economic complexities are contextual and multifaceted and vary from country to country depending on the dynamics of conflict and post-conflict settings. The success of post-conflict reconstruction can be assessed in terms of preventing the recurrence of conflict and ensuring ‘positive security’ to affected communities. This research sets out to analyse the post-conflict reconstruction efforts in the tribal areas of Pakistan, using North Waziristan (NW) as a case study to attest to what extent reconstruction practices have addressed the priorities and needs of local communities and how they have impacted on societal power and gender relations in the region. Therefore, the subjective experiences of vulnerable communities provide a more comprehensive understanding of security and development. In order to ensure proper rehabilitation and well-being through the designed development interventions, knowledge about real people’s experiences of grievances must be taken into account seriously, in connection with ongoing transition processes. Therefore, this study takes community perspectives as its starting point, aiming to understand people’s experiences of grievance in a fragile situation. The study addresses the following three goals through individual but interrelated papers: (i) the extent to which the interventions have been participatory and how they have been perceived by local communities in terms of their contextual needs; (ii) how the interventions have reconfigured the societal power dynamics by creating new winners and losers as part of the urge for stability and control in the region; and (iii) the extent to which the interventions have empowered women and influence the societal gender norms in the region. This study is anthropologically sensitive, based on ethnographic findings from the fieldwork and the interpretations thereof. Primary data was collected during the years of 2017-2019 in selected urban areas in NW through semi-structured interviews, informal discussions and participant observation with local and key respondents. Over a period of 14 months, a total of 76 respondents were interviewed, including 46 male respondents and 30 females for this research study. Due to the volatile security situation in the field, informal discussions (n=42) in shops, mosques, and Hujras (communal guest house) had to be prioritised for the safety of respondents and the researcher himself. Furthermore, participant observation over a long period has enabled the researcher to note down the everyday experiences of local communities in terms of their needs and priorities in the post-conflict period. Secondary data collected for this study includes literature on the conflict, geopolitical history, development indicators and socio-cultural life of North Waziristan. The literature review also comprises collecting and confronting a variety of government and organization reports, articles, census, historical records and policy papers. This research study has allowed to conclude that reconstruction interventions lead by the Government of Pakistan (GoP) have been implemented authoritatively, under the control of military command, and largely without the involvement of local communities. In this context, the conclusion is that the militarization of development has not only undermined the contribution of humanitarian actors/agencies but also subsumed them into state ‘hard’ security/military interests and policy goals. All in all, this research study concludes that while establishing human security as a benchmark, top-down reconstruction policies and projects usually ignore local knowledge and even exacerbate pre-existing vulnerabilities by creating new winners and losers. Favouring of one group to the detriment or exclusion of others has been a major source of societal cleavages in the post-conflict North Waziristan. However, this study has also pointed out some positive outcomes in the reconstruction practices. It has found out and illustrated that the post-conflict cash transfer program has influence gender roles and patriarchal norms by upgrading women’s status both within the household and in the community, eventually putting in motion a transition in traditional hegemonic masculinities in the region.A reconstrução pós-conflito é uma questão complexa e há muito debatida no contexto dos discursos que articulam conflito, segurança e desenvolvimento. As complexidades socioeconómicas são contextuais e multifacetadas, e por isso variam de país para país, dependendo da dinâmica dos conflitos e dos cenários pós-conflito. O sucesso da reconstrução pós-conflito pode ser avaliado em termos de prevenção da reincidência de conflitos e das garantias de produção e distribuição de ‘segurança positiva’ às comunidades mais vulneráveis. Desta forma, este trabalho de investigação procura analisar os esforços de reconstrução pós-conflito nas zonas tribais do Paquistão, utilizando a região do Waziristan do Norte (NW) como estudo de caso com o objetivo de avaliar em que medida as práticas de reconstrução foram desenhadas para responder às prioridades e necessidades das comunidades locais, e como isso afetou o poder social e as relações de género na região. As experiências subjetivas das comunidades afetadas pelo conflito proporcionam assim uma compreensão mais abrangente sobre segurança e desenvolvimento e do nexo entre eles. A garantia de reabilitação eficaz e bem-estar adequado através de intervenções de desenvolvimento exige, portanto, um conhecimento profundo sobre vulnerabilidades e experiências pessoais no contexto dos processos de transição em curso na região. Daí que este estudo toma as perspetivas comunitárias como ponto de partida, com o objetivo de compreender as experiências pessoais e (inter) subjetivas num contexto de fragilidade. Os seguintes três objetivos foram estabelecidos e desenvolvidos através de papers individuais mas articulados: (i) em que medida as intervenções de reconstrução foram participativas e como foram percecionadas pelas comunidades locais em termos das suas necessidades contextuais; (ii) de que forma as intervenções reconfiguraram as dinâmicas do poder social através da criação de novos vencedores e vencidos como parte do controlo e estabilização da região; (iii) em que medida as intervenções capacitaram as mulheres e influenciaram as normatividade de género na região. Este estudo é antropologicamente sensível, baseado na recolha de dados etnográficos no terreno e na interpretação destes. Os dados primários foram coletados entre os anos de 2017-2019 em áreas urbanas selecionadas no Waziristão do Norte por meio de entrevistas semiestruturadas, discussões informais e observação participante com entrevistados locais. Durante um período de 14 meses, foram entrevistados 76 contactos, incluindo 46 entrevistados do sexo masculino e 30 do sexo feminino. Devido à situação de segurança volátil no campo, discussões informais (n=42) em lojas, mesquitas e Hujras (casa de hóspedes comunitárias) mostraram-se especialmente importantes para a segurança do pesquisador e dos entrevistados. Além disso, a observação participante desenvolvida durante um longo período permitiu ao pesquisador observar as experiências cotidianas das comunidades locais em termos das suas necessidades e prioridades no período pós-conflito. Os dados secundários coletados para este estudo incluem a literatura sobre o conflito, história e geopolítica, indicadores de desenvolvimento e vida sociocultural da região. A revisão da literatura compreende a análise de uma variedade de relatórios governamentais e de organizações, artigos, censos, registros históricos e policy papers. Através deste estudo foi possível concluir que as intervenções de reconstrução desenhadas pelo Governo do Paquistão foram implementadas de forma centralizada, sob comando militar, e maioritariamente sem o envolvimento das comunidades locais. Conclui-se também que a militarização do desenvolvimento não só mina as contribuições dos atores humanitários no terreno, mas também subsume a sua ação em termos de uma política de segurança ‘dura’ centrada no interesse nacional. Este estudo esclarece ainda que, ao estabelecer a segurança humana como referência e benchmark, as políticas e projetos de reconstrução desenhadas e implementadas de cima para baixo ignoram o conhecimento local e, desta forma, exacerbam fragilidades e conflitos pré-existentes produzindo novos vencedores e perdedores no jogo social. O favor de um grupo e/ou excluir outro tem sido uma grande fonte de decotes sociais. No entanto, o estudo também pôde constatar alguns resultados percecionados como positivos na reconstrução pós-conflito. O programa de transferência de dinheiro aos afetados teve um impacto nos papéis de género e na normatividade patriarcal, melhorando o estatuto das mulheres, tanto em casa quanto na comunidade, acabando por desencadear um processo de transição das masculinidades hegemónicas.