A verdade dos outros: questões de responsabilidade enunciativa

No quadro sócio-histórico e político atual, considerar a problemática da verdade convoca de imediato a questão da pós-verdade. Esta tem sido, essencialmente, uma questão filosófica, ditada pelo questionamento sobre a verdade, a sua natureza. A própria ciência participa desse debate, enquanto procura a verdade do mundo, seja a partir de que área for, para encontrar a verdade possível. Nesse sentido, a verdade é conhecimento. Retoma-se aqui a relação entre verdade e conhecimento para tratar especificamente da relação entre discurso e verdade. Por contraponto, coloca-se também a questão da pós-verdade. A esse propósito, percorre-se alguns tópicos sobre a origem da designação, o enquadramento da noção de pós-verdade e as definições que circulam sobre ela, para daí derivar para questões de construção discursiva da verdade do locutor e da verdade dos outros, no uso dos diferentes modos de discurso relatado no discurso jornalístico. A partir de um evento que gerou alguma polêmica nos media portugueses, o caso Ricardo Robles, analisa-se as estratégias do locutor para se posicionar face às vozes que convoca para o seu discurso, com consequências ao nível da responsabilidade enunciativa. Estabelece-se, assim, uma relação entre responsabilidade e juízo de verdade que subjaz a todos os discursos. Fomentar o conhecimento, em geral, e a competência discursiva, em especial, são condições para o desenvolvimento de uma atitude crítica. Saber ler um texto e encontrar aí a verdade proposta pelo locutor, no caso vertente num texto jornalístico, implica não só atender ao que se diz, mas também ao modo como se diz, ao modo como o locutor representa a sua verdade em inter-relação com a verdade dos outros