Study and temporal distribution and potential residency of bottlenose dolphin (Tursiops truncatus) off São Miguel Island, Azores

The common bottlenose dolphin (Tursiops truncatus) is a cosmopolitan cetacean species distributed all over the world, except in the poles. This species is also one of the most sighted in the island of São Miguel, Azores, however it is still poorly studied. This thesis describes the spatial and temporal distribution of bottlenose dolphins sighted off São Miguel and presents a catalogue with the individuals identified between 2014 and 2019. Furthermore, their degree of residency around the island of São Miguel is also assessed. Data was collected using as opportunistic platforms of observation the whale watching boats of Futurismo Azores Adventures, a company with main base port in Ponta Delgada, on the south of the island. Two datasets were used: the first includes the information from the bottlenose dolphin sightings registered between 2010 and 2019, and it was used to analyse spatial and temporal distribution of bottlenose dolphins around the island; the second dataset includes pictures taken during the whale watching trips from 2014 until 2019, and it was used to build a catalogue with the individuals identified during that period, look for residency patterns and associations among the residents. The results revealed a preference for shallower waters indicating a higher number of sightings in depths lower than 500m. The presence of bottlenose dolphins varied between seasons and inter-annually, with higher occurrences during the warmer months. This pattern has been seen in other studies and it could be related to higher concentration of prey after a peak in phytoplankton in the previous months. From the 505 individuals identified only 52 dolphins were considered residents. Within these dolphins there were four possible associations between several individuals based on the dates they were encountered on. This study is the first to present a catalogue with individuals from São Miguel and one of the first to analyse the spatial and temporal distribution of bottlenose dolphins in the island. Further research would be needed to contribute to the overall knowledge of this species in São Miguel and support proper management and conservation plans for the species in this area.O golfinho roaz (Tursiops truncatus) é uma espécie cosmopolita, com uma ampla distribuição por todos os oceanos, exceto nas altas latitudes, podendo habitar em águas ao longo dos continentes, em lagos e mares fechados, águas oceânicas e em redor de ilhas. Por preferirem diferentes habitats, os golfinhos roazes foram divididos em dois ecótipos- costeiro e oceânico- que divergem em características como a genética, morfologia, fisiologia e tipo de alimentação. Os indivíduos que habitam em áreas mais abertas, como em redor de ilhas oceânicas, tendem a formar grandes populações, com vastas deslocações e baixa fidelidade à área, enquanto populações que habitam em zonas costeiras ou fechadas como estuários são normalmente mais pequenas e com maior fidelidade. A Ilha de São Miguel, uma das nove ilhas do arquipélago dos Açores, encontra-se no meio do oceano Atlântico numa localização privilegiada para vários mamíferos marinhos, tanto os que residem ao seu redor como aqueles que simplesmente passam durante a sua rota migratória. A ocorrência de correntes juntamente com a complexa batimetria favorece a produção primária, permitindo que o alimento de vários predadores de topo cresça. Atualmente por razões logísticas e monetárias, muitos estudos de mamíferos marinhos são feitos com recurso a dados oportunistas, recorrendo muitas vezes a empresas de observação de cetáceos. Estas empresas estão presentes em várias ilhas do arquipélago dos Açores, algo que antes da década de 90 era impensável devido à caça da baleia, que, entretanto, foi abolida na década de 80. Embora esta forma de recolher dados apresente algumas limitações é sem dúvida uma mais-valia em estudos de curto e longo prazo, para o conhecimento destes animais e também por serem indispensáveis para o desenvolvimento de medidas de proteção das espécies. Em São Miguel, o golfinho roaz é uma das espécies mais avistadas, sendo observada durante todo o ano em viagens de observação de cetáceos. No entanto, a informação disponível sobre estes golfinhos é limitada. No arquipélago dos Açores, vários estudos foram feitos em tópicos como estrutura da população, padrões de residência e movimentos, ocorrência e distribuição e também abundância. No entanto, embora tenham sido recolhidos bastantes dados ao longo dos anos, a maior parte do esforço utilizado para estes estudos foi feito no grupo central, dividido entre as ilhas do Pico e do Faial. Em São Miguel muito pouco se sabe sobre a distribuição, variação sazonal e padrões de residência desta espécie. Este estudo é o primeiro a avaliar a distribuição temporal e espacial de golfinhos roazes e possíveis graus de residência na costa Sul de São Miguel. Entender a dinâmica e a distribuição espacial e temporal desta população local é necessário para o reconhecimento de áreas importantes para estes indivíduos, entender o estado da população e para a implementação de medidas de conservação efetivas. Neste estudo foram utilizadas duas bases de dados, sendo uma delas com informação sobre a ocorrência dos avistamentos de golfinhos roazes durante 10 anos (2010-2019) e outra com fotos desta espécie tiradas num período de seis anos (2014-2019). Estes dados foram recolhidos de forma oportunista em viagens de observação de cetáceos da empresa Futurismo Azores Adventuures com base em Ponta Delgada. As bases de dados foram usadas para analisar a distribuição espacial e temporal e criar um catálogo de foto-identificação, respetivamente. Este estudo pretende entender o espaço utilizado pelos golfinhos e a existência de diferenças anuais e sazonais no número de encontros e identificar possíveis residentes através da utilização do catálogo. Como objetivo secundário será necessário comparar as variações de temperatura superficial da água e concentração de clorofila-a com os dados de avistamentos e taxa de encontros, de modo a verificar se estes se relacionam. Para além disso será necessário verificar a ocorrência e identificar associações (grupos) utilizando o catálogo. Para o catálogo foram usadas apenas fotos de golfinhos que pudessem ser identificáveis, com marcas proeminentes na barbatana dorsal como cortes e/ou pigmentação. Os resultados relacionados com a distribuição espacial revelaram dois locais de concentração de avistamentos, um localizado a sul de Ponta Delgada e outro entre Lagoa e Caloura. A distância dos encontros à costa deu-se, maioritariamente, abaixo dos 4 km, embora seja visível um aumento da mesma durante o verão e o outono. As profundidades a que foram encontrados revelam preferência por águas pouco profundas, abaixo dos 400 m. A preferência por estas áreas costeiras parece estar relacionada com vários fatores, como a possível maior produção primária verificada nestas zonas e a proteção à predação e competição. Em relação à distribuição temporal verificou-se que existem variações notáveis no número de avistamentos nos distintos anos. Similarmente, embora os roazes possam ser avistados durante todo o ano, houve uma grande variação no número de ocorrências entre meses frios e quentes. Como esperado, tendo em conta os resultados de outros estudos, a época em que mais vezes foram avistados golfinhos roazes foi nos meses mais quentes entre junho e agosto. Esta maior concentração nos meses quentes parece estar relacionada com o aumento de presas na área, resultado de um máximo de clorofila que ocorreu nos meses anteriores, desencadeando uma cadeia trófica que aumenta a abundância de pequenos peixes de cardume, um tipo de presa que faz parte da dieta habitual destes golfinhos. Por outro lado, a temperatura da superfície do mar atinge no verão os seus valores máximos o que também parece agradar aos golfinhos, especialmente às fêmeas, originando boas condições para que estas tenham as suas crias. Estes resultados sugerem que a disponibilidade de presas é um fator importante para a distribuição espacial e temporal da espécie. Em relação aos resultados obtidos através da foto-identificação, estes mostram que apenas 52 golfinhos dos 505 identificados foram avistados frequentemente em diferentes estações e em diferentes anos mostrando assim grande fidelidade à área, podendo ser considerados residentes. A maioria dos golfinhos foi avistada apenas uma ou duas vezes durante o período estudado e provavelmente estavam apenas de passagem pela ilha. Através da análise das datas dentro do grupo dos residentes verificou-se a existência de quatro possíveis associações diferentes de golfinhos, o que leva a crer que dentro da mesma população existem golfinhos com mais afinidade e por isso encontram-se juntos durante vários anos. Como a informação sobre os golfinhos roazes em São Miguel é limitada e sendo esta uma espécie bastante móvel num ambiente dinâmico, é extremamente necessário a contribuição de mais estudos, de forma a aumentar o conhecimento geral, mas também para fornecer informação realista ajudando a implementar planos de gestão e conservação eficazes, ao redor da ilha