Dois Caminhos para o Futuro: o Vernacular Contemporâneo e o Tecnológico Hedonista

A arquitetura é uma imagem do futuro. Partindo dessa premissa, a questão que se pretende colocar é se ambicionamos um futuro oculto ou transparente, vernacular ou tecnológico. Um futuro no qual podemos criar e intervir ou um futuro programado e mecânico. Porém, como podemos conceber a liberdade e o ato criativo, quando a filosofia e neurociência nos indicam que somos máquinas biológicas, programadas pela genética e pela cultura, sendo as nossas decisões o resultado de uma rede causal que não podemos controlar? O livre-arbítrio pode ser uma ilusão e, sem liberdade, não há responsabilidade. Se assim for, em última instância, não podemos falar de autor, nem de um agente num determinado processo, quer na criação arquitetónica, quer na produção urbana. A arquitetura e o urbanismo tornaram-se objetos autónomos, independentes do sujeito. Por outro lado, o aquecimento global, em tempos uma previsão, representa agora uma ameaça real à existência de seres humanos e não-humanos. Este hiperobjeto é agora incontornável, e o caminho que devemos seguir para o combater é ainda incerto. A acompanhar a evolução desse hiperobjeto, a Inteligência Artificial e a Big data estão a ter um impacto significativo no modo como fazemos previsões e, consequentemente, como planeamos o curso das nossas ações. Poderemos então, continuar a considerar a arquitetura um processo intuitivo, conduzido por decisões e ações? "Dois caminhos para o Futuro: o Vernacular Contemporâneo e o Tecnológico Hedonista" propõe assim a conceção de dois caminhos apoiada na análise de dois contextos que, no decorrer da expansão metropolitana e conurbação urbana, projetaram direções distintas: Florianópolis, Brasil, e Copenhaga, Dinamarca. A imagem oculta de Florianópolis, resultado de políticas neoliberais que invalidaram qualquer visão estratégica a longo prazo, estende-se no presente, com um plano participativo que mantém um elevado grau de imprevisibilidade. No lado oposto, a imagem transparente de Copenhaga, resultado do famoso Plano de Cinco Dedos, modelo urbano implementado após a segunda guerra mundial que entra em crise com o fim da guerra fria, culmina na elaboração da cidade linear de Orestad, após a mudança no paradigma geopolítico que levou à implementação de modelos urbanos orientados para o mercado. As duas trajetórias, invocadas pelos casos de estudo, servirão então de auxílio a esta monumental tarefa que é pensar o futuro.Architecture is an image of the future. Starting from this premise, the question we want to ask is whether we aspire to a hidden or transparent, vernacular or technological future. A future in which we can create and intervene or a programmed and mechanical one. But how can we conceive of freedom and the creative act when philosophy and neuroscience tell us that we are biological machines, programmed by genetics and culture, with our decisions being the result of a causal network that we cannot control? Free will may be an illusion, and without freedom, there is no responsibility. What this ultimately means is that we cannot speak of an author, nor of an agent in a given process, either in architectural creation or in urban production. Architecture and urbanism have become autonomous objects, independent from the subject. On the other hand, global warming, once a prediction, now represents a real threat to the existence of human and non-human beings. This hyperobject is now unavoidable, and the path we must follow to combat it is still uncertain. Accompanying the evolution of this hyperobject, AI and Big data are having a significant impact on how we make predictions and, consequently, how we plan the course of our actions. Can we then, continue to consider architecture an intuitive process driven by decisions and actions? "Two Paths Towards the Future: Contemporary Vernacular and Technological Hedonism" thus proposes the conception of two paths supported by the analysis of two contexts that, in the course of metropolitan expansion and urban conurbation, projected different directions: Florianopolis, Brazil, and Copenhagen, Denmark. The hidden image of Florianopolis, the result of neoliberal policies that invalidated any long-term strategic vision, extends into the present, with a participatory plan that maintains a high degree of unpredictability. On the opposite side, the transparent image of Copenhagen, the result of the famous Five Finger Plan, an urban model implemented after World War II that goes into crisis with the end of the Cold War, culminates in the elaboration of the linear city of Orestad, after the change in the geopolitical paradigm that led to the implementation of market-oriented urban models. The two trajectories, invoked by the case studies, will then serve as an aid to this monumental task of thinking about the future