Entre a imagem e a palavra: o ciclo teresiano da Igreja do Antigo Convento de Santa Teresa em Carnide

O convento de Santa Teresa de Carnide contém no seu interior um repositório azulejar da maior importância para o estudo da iconografia carmelita , sendo possível entender e apercebermo-nos, neste espaço, como Santa Teresa de Jesus é retratada nas representações azulejares, com um ciclo extensivo consagrado à representação de episódios da sua vida, tanto a nível terreno como espiritual. Personalidade marcante no contexto espiritual da segunda metade do século XVI, Santa Teresa de Jesus (ou Santa Teresa de Ávila como também é conhecida) quando morre, em 1582, deixa uma vasta produção literária (ORAZEM: 2011, ) que a consagra Doutora da Igreja; uma vida de contemplação e de devoção que constitui a base da sua quase imediata beatificação, e uma Ordem contemplativa que funda, dirigida para a meditação e que a transforma numa das maiores místicas da Igreja, servindo, desde logo, como fonte de inspiração e modelo, por exemplo, a gravadores, pintores, azulejadores, responsáveis pelas criações artísticas associadas à santa carmelita ao longo do séculos XVII e XVIII. A história de vida de Santa Teresa é, essencialmente, uma história de Amor com Jesus Cristo, onde se fala sempre do mais substancial da pessoa humana. Na maioria dos seus escritos só existe um Cristo homem, sendo o resto devoção. Não propomos neste breve texto fazer a sua biografia, - que já está escrita e estudada - mas propor um itinerário visual pelos principais espaços azulejados numa visita a este magnífico conjunto arquitetónico de Lisboa, e um dos maiores testemunhos da vivência da espiritualidade carmelita da cidade. O convento de Carnide apresenta, pela qualidade artística e pela diversidade cronológica dos seus exemplares, um interessantíssimo acervo azulejar da época moderna constituído por significativos exemplares de padronagem seiscentista (PEREIRA: 1897, 97-98) até às composições figurativas representativas do estilo rococó, compreendendo o revestimento azulejar da igreja, a dependência junto ao espaço eclesial com o ciclo iconográfico dedicado à Paixão de Jesus Cristo (capela do Santo Cristo), da sacristia, da sala do Capítulo, da portaria, do coro alto, dos claustros e de outras dependências conventuais.