Análise enunciativa de o Livro do desassossego ilustrada pelas janelas de Edward Hopper

A presente pesquisa propõe uma análise enunciativa de alguns fragmentos do Livro do Desassossego. Neste sentido, observa-se o funcionamento da categoria de espaço a fim de entender como a subjetividade de Bernardo Soares é construída por meio das metarreflexões elaboradas em seu processo de escrita. Considerando-se a habilidade de Fernando Pessoa em se propor como outro, enquanto praticante de um exercício de alteridade dele mesmo, o estudo dos trechos sustenta-se nas palavras do linguista francês Émile Benveniste, e partindo do conceito de subjetividade na linguagem, estuda-se como os componentes do aparelho formal da enunciação são criados por meio da escrita. O estudo dos fragmentos dividiu-se em três temáticas, a saber: do ser, das sensações e do espaço. Por meio deles, relacionou-se conceitos teóricos do campo da Teoria da Enunciação com o trabalho dos críticos da obra pessoana, Leyla Perrone-Moisés e José Gil. Além disso, os espaços físicos que desencadeiam diferentes instâncias de espaços enunciativos foram ilustrados com as pinturas de Edward Hopper, em especial, uma série de quadros em que sujeitos solitários estão dispostos perto de janelas. Desta maneira, foi possível reforçar a importância de analisar o texto literário à luz das teorias enunciativas, visto que este pode revelar minúcias em relação à subjetividade humana expressa por meio da linguagem. A pesquisa possui caráter exploratório e descritivo. Conclui-se que o diálogo entre artes de campos distintos, apresentados neste trabalho, podem contribuir, de forma significativa, aos campos de estudo da literatura comparada e de análises linguísticas, pois entende-se o texto como produto da subjetividade humana, portanto, matéria aberta a várias leituras e interpretações.This research proposes an enunciative analysis of some fragments of the Book of Disquiet. In this sense, the functioning of the space category is observed to understand how Bernardo Soares' subjectivity is constructed through the meta-reflections elaborated in his writing process. Considering Fernando Pessoa's ability to propose himself as another, as a practitioner of an alterity exercise of himself, the study of the excerpts is supported by the words of the French linguist Émile Benveniste, and based on the concept of subjectivity in language, whether how the components of the formal apparatus of enunciation are created through writing. The study of the fragments was divided into three themes, namely: being, sensations and space. Through them, theoretical concepts from the field of Enunciation Theory were related to the work of the critics of Pessoa's work, Leyla Perrone-Moisés and José Gil. Furthermore, the physical spaces that trigger different instances of enunciative spaces were illustrated with paintings by Edward Hopper, in particular a series of pictures in which solitary subjects are arranged near windows. In this way, it was possible to reinforce the importance of analyzing the literary text in the light of enunciative theories, as it can reveal details in relation to human subjectivity expressed through language. The research has an exploratory and descriptive character. It is concluded that the dialogue between arts from different fields, presented in this work, can contribute significantly to the fields of study of comparative literature and linguistic analysis, as the text is understood as a product of human subjectivity, therefore, as open matter to various readings and interpretations