Construindo investigações em aulas de Cências: práticas, modos de comunicação e relações temporais nos três primeiros anos do ensino fundamental

Esta pesquisa tem como objetivo investigar como uma professora e estudantes de uma escola pública federal constroem investigações utilizando diferentes modos de comunicação em aulas de ciências, ao longo dos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Inicialmente, apresentamos um levantamento da produção acadêmica que evidencia as principais perspectivas, desafios e possibilidades da educação científica nos anos iniciais. Especificamente, voltamo-nos para a introdução de crianças a práticas investigativas de maneira articulada a uma visão multimodal dos processos de ensino e aprendizagem de Ciências, aspectos ainda pouco explorados no contexto nacional. Inserido em um projeto de pesquisa mais amplo, que acompanhou uma mesma turma de uma escola pública federal, ao longo do primeiro ciclo de formação, descrevemos e caracterizamos o processo de seleção do contexto e dos participantes da pesquisa. O referencial teórico-metodológico está baseado na perspectiva etnográfica em educação, principalmente em aspectos da Sociolinguística Interacional, da Análise Microetnográfica do Discurso, além de pressupostos da Teoria Multimodal da Semiótica Social. A construção dos dados envolveu a realização de observação participante, registros em vídeo, anotações feitas em caderno de campo, bem como a coleta de artefatos produzidos pelos participantes do estudo. O processo analítico compreendeu análises macroscópicas dos dados, com a construção de quadros de aulas, linhas do tempo e mapas de eventos. Essas análises forneceram uma visão geral do conjunto de dados, por meio da qual identificamos eventos para uma análise detalhada, a partir da presença, nas interações discursivas, de aspectos relacionados às práticas investigativas e ao uso de diferentes modos semióticos. A partir da construção de um Telling case, também realizamos um mapeamento progressivo de eventos orientado pelas memórias coletivas do grupo, evocadas nos dois anos subsequentes. No nível das análises microscópicas, por meio do uso de pistas contextuais, realizamos a transcrição das interações face a face em unidades de mensagem e elaboramos quadros descritivos e analíticos. Os resultados e as análises organizam-se em três eixos interconectados: i) A construção de práticas investigativas; ii) Relações intertextuais, intercontextuais, memórias coletivas e cronotopo da sala de aula na construção de práticas investigativas com o uso de diferentes modos semióticos; iii) Uso de diferentes modos de comunicação na construção de práticas investigativas ao longo do tempo e dos eventos. Em relação ao primeiro eixo, evidenciamos a recorrência, transformação e diversificação das práticas investigativas, no sentido de sua apropriação e incorporação à cultura do grupo. Com relação ao segundo eixo, destacamos o papel das relações temporais que contribuíram para contextualizar, orientar ações e embasar discussões pertinentes, fornecendo um enquadramento interpretativo para o grupo engajar-se em novas práticas investigativas. Já o terceiro eixo reafirma a natureza multimodal da construção dessas práticas, evidenciando como o uso orquestrado de diferentes modos contribuiu para a introdução das crianças aos modos de pensar, falar e representar o conhecimento científico. Ao retomar o diálogo com o campo de pesquisa, na discussão, apontamos que o nosso trabalho corrobora a importância de introduzir as crianças às práticas da ciência escolar, além de oferecer contribuições originais por enfocar o caráter multimodal das interações e colocar as relações temporais como objeto de análise. Nas considerações finais, refletimos sobre as implicações destes resultados para a pesquisa educacional, políticas públicas, prática pedagógica, além de apontarmos perspectivas futuras de investigação.This research aims to investigate how a teacher and students of a federal public school construct investigations using different modes of communication in science classes, during the first three years of elementary education. First, we present a literature review that shows the main perspectives, challenges and possibilities of scientific education for children. Specifically, we focus on aspects of the national context that have not been thoroughly explored in the research field, like the introduction of children in inquiry practices. This study is part of a larger project that followed the same group over the first three years of elementary school. We describe and we characterize the context and the selection of participants for this investigation. The theoretical methodological approach is based on elements from ethnographic perspective in education. These elements are informed by Interactional Sociolinguistics and Microethnographic Discourse Analysis tools. We also rely on Social Semiotic Multimodal Theory. The construction of data involved participant observation, video records, fieldnotes and collection of artifacts produced by the study participants. The analytical process comprises macroscopic analysis of data, with the construction of tables, timelines and event maps. Considering this scenario, we identified some events for detailed analysis, based on the presence of aspects related to inquiry practices and the use of semiotic modes. After the Telling case construction, we also performed forward mapping guided by the process of collective remembering toward the following two years. At the level of microscopic analysis, we used contextual clues to elaborate transcriptions in message units as well as descriptive and analytical tables. Our results and analysis are organized in three interconnected axes: i) The construction of inquiry practices; ii) Intertextual and intercontextual relations, collective memories and chronotope of the classroom in the construction of inquiry practices using different modes of communication; iii) Use of different semiotic modes in the construction of inquiry practices over time. The first axis shows the recurrence, transformation and diversification of inquiry practices considering their appropriation and incorporation into group´s culture. In regard to the second axis, we highlight the role of temporal relationships that helped to contextualize, to guide actions and to support relevant discussions, providing an interpretative framework for the group to engage in new inquiry practices. The third axis reaffirms the multimodal nature of inquiry practices, showing how the orchestrated use of semiotic modes contributed to the introduction of children to the ways of thinking, speaking and representing scientific knowledge. In our discussion, we point out that our work corroborates the importance for children to develop scientific understandings and inquiry practices over time when guided with competent instruction. We also offer original contributions by focusing on the multimodal character of interactions as well as temporal relations as objects of analysis. In the closing remarks, we reflect on implications of results for educational research, public policies, pedagogical practice, besides pointing out future research perspectives