Avaliação funcional de crianças com comprometimento visual secundário àtoxoplasmose congênita utilizando os instrumentos Avaliação da Visão Funcional (AVIF-2 a 6 anos) e Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI - versão brasileira)

Introdução: A toxoplasmose congênita, prevalente no Brasil, pode comprometer a retina e as funções visuais levando à baixa acuidade visual. As crianças com esse comprometimento podem ser beneficiadas pelas intervenções multidisciplinares (Habilitação Visual), que visam minimizar atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor. A avaliação funcional complementa as informações oftalmológicas e permite planejar a intervenção. Os testes disponíveis para mensurar o desempenho funcional desse público ainda necessitam de maiores estudos, com aplicação em população com diferentes faixas etárias e doenças visuais com etiologia única, que poderiam apresentar déficits específicos. Objetivos: O presente estudo se propõe a revisar a literatura sobre instrumentos disponíveis para avaliação da funcionalidade decrianças com baixa visão e aplicar dois desses instrumentos, Avaliação da Visão funcional (AVIF-2 a 6 anos) e Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI) para avaliar respectivamente funcionalidade visual e global (tarefas de autocuidado), em uma coorte de crianças com toxoplasmose congênita em Minas Gerais. Método: A investigação foi realizada em duas etapas, sendo a primeira uma revisão de literatura sobre instrumentos para avaliação da funcionalidade visual em crianças com baixa visão. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases de dados Web of Science, Biblioteca Virtual em Saúde, Cochrane,Scielo e Pubmed, nos idiomas português, inglês e espanhol. Na segunda etapa foi realizado estudo transversal em uma coorte de 96 crianças com toxoplasmose congênita participantes da pesquisa AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE QUALIDADE DE VIDA RELACIONADO AO COMPROMETIMENTO DA FUNÇÃO OCULAR EM CRIANÇAS COM TOXOPLASMOSE CONGÊNITA. Essas crianças foram elegíveis paraparticipar desse estudo por não apresentarem comprometimento neurológico, por terem sido avaliadas por equipe de especialistas do serviço de Baixa Visão Infantil, por terem aceitado participar da pesquisa respondendo aos dois instrumentos selecionados (AVIF- 2 a 6 anos ePEDI). Para elaboração do banco de dados e análise estatística utilizou-se o Excel e o StatisticalPackage for Social Sciences (SPSS) versão 20.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa da UFMG. Resultados: Os instrumentos de avaliação da funcionalidade apontados na revisão bibliográfica estavam direcionados, em sua maioria, à avaliação da funcionalidade global e qualidade de vida, predominando o formato questionário. Poucos instrumentos voltados a pré-escolares. Em relação à funcionalidade visual, destacou se o teste AVIF-2 a 6 anos, em formato observacional. Dois estudos utilizaram a entrevista PEDI para avaliar funcionalidade global em crianças com baixa visão e obtiveram resultados significativos nos domínios mobilidade e autocuidado. Procedeu-se ao estudo transversal da coorte de 96 crianças com toxoplasmose congênita. A maioria das crianças apresentava cinco anos de idade (85,4%), lesão de retinocoroidite macular bilateral (58,0%) e visão normal (42,7%). Apenas 16 crianças foram classificadas com perda visual moderada/grave, de acordo com o Conselho Internacional de Oftalmologia ICO (2002). Houve diferença significativa quando realizada análise de comparação múltipla no desempenho das crianças apenas para o teste AVIF-2 a 6 anos em relação aos grupos (visão normal, perda visual leve e perda visual moderada/grave), com pior desempenho das crianças com perda visual moderada/grave (p<0,0001). O domínio do teste com maior prejuízo no resultado pela Análise de Variância foi o seguimento visual (p=0,022). Os resultados da PEDI não foram influenciados pela perda visual (grupos) e houve correlação positiva fraca (Correlação de Spearman) entre os escores dos dois instrumentos. Os resultados dos testes AVIF-2 a 6 anos e PEDI não foram influenciados pela presença da lesão de retinocoroidite ou sua localização macular e, quando analisado se idade era fator de confundimento, não houve diferença significativa. Apenas o instrumento AVIF-2 a 6 anos foi influenciado pela variável acuidade visual (p= 0,006). Conclusão: Crianças com perda visual moderada/grave secundária à toxoplasmose congênita apresentaram pior resultado no uso da visão funcional de acordo com o teste AVIF-2 a 6 anos, especialmente no domínio seguimento visual. Essa informação juntamente com os achados morfológicos possibilita melhor planejamento do processo de habilitação visual. Os resultados da entrevista PEDI não apresentaram diferenças significativas (escore contínuo e itens da parte 1-Autocuidado)em relação aos grupos por classificação da perda visual. São necessárias novas pesquisas a fim de verificar a adequação da entrevista, para avaliação funcional global das crianças com comprometimento visual.Introduction: Congenital toxoplasmosis, which is prevalent in Brazil, can damage the retina and visual function, leading to visual impairment. Children with this impairment can benefit from early visual habilitation/development, which aims to minimize delays in neuropsychomotor development. A functional evaluation complements the anatomical information observed by the ophthalmologist and allows planning the appropriate intervention. The tests available for measuring functional performance in this population need further study, withapplicability to different age groups and visual diseases of unique etiologies that could have specific visual deficits. Objectives: The aim of this study is to review the literature on instruments available for evaluating visual function in children with low vision, and to use two of these instruments: Functional Vision Assessment (AVIF-2 to 6 years old) and Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI) - to evaluate both visual function and global function, specifically in relation to self-care tasks, in a group of children from Minas Gerais with congenital toxoplasmosis. Method: research was conducted in two stages. The first stage involved a review of the literature regarding tools for evaluating visual function in children with low vision. The Web of Science, Virtual Health Library, Cochrane, Scielo and Pubmed databases were searched for literature published in Portuguese, English and Spanish before September 6, 2016. In the second stage, a cross-sectional study was conducted using data from a group of 96 children with congenital toxoplasmosis who participated in the "EVALUATION OF THE PERCEIVED QUALITY OF LIFE AND VALIDATION OF A TOOL FOR MEASURING QUALITY OF LIFE IN RELATION TO IMPAIRED VISUAL FUNCTION IN CHILDREN WITH CONGENITAL TOXOPLASMOSIS" These children, were eligible to participate in the study because they had no neurological impairment, they had been evaluated by a team of Infant Low Vision specialists, and they had agreed to participate in the research using the two selected instruments to evaluate the childs visual and global functions: AVIF-2 to 6 years old and PEDI, respectively. Excel and Statistical Package for Social Sciences (SPSS) version 20.0 were used to create the database and analyze the statistics. The project was approved by the UFMG Ethics Committee. Results: The function evaluation tools identified in the literature review were mostly aimed at evaluating global functional performance and quality of life, predominantly through the use of questionnaires. Few tools were aimed to preschoolers. Regarding visual function, the AVIF-2 to 6 years old test was noted for its observational format. Two studies used the PEDI interview to evaluate global function in children with low vision, obtaining significant results in relation to mobility and self-care. The cross-sectional study was conducted on the group of 96 children with congenital toxoplasmosis. Most of the children were five years old (85.4%), had retinochoroidal bilateral macular lesions (58.0%) and normal vision (42.7%). Only 16 children were classified as having moderate/severe loss of vision, according to the International Council of Ophthalmology (ICO), 2002. A multiple comparison analysis identified a significant difference in how the children from each group (normal vision, mild loss of vision and moderate/severe loss of vision) performed in the AVIF-2 to 6 years old test, where children with moderate/severe vision loss did not perform as well as the other groups (p