Conexões em sala de aula: uma análise das interações sociais no ensino médio em situações de uso pedagógico ou de proibições dos smartphones

O acesso aos artefatos tecnológicos digitais vem modificando a vida em sociedade e perpassa, também, a realidade escolar. Tais mudanças trazem questionamentos para o campo da Sociologia da Educação como, por exemplo, a necessidade de se compreender as implicações das tecnologias digitais nas atividades de alunos e professores, no que diz respeito às interações que estabelecem entre si, aos usos que fazem dessas tecnologias dentro da escola e aos impactos sobre as desigualdades escolares. Este trabalho focaliza, especificamente, o smartphone, que que tem ocupado centralidade no cotidiano dos alunos do ensino médio, mas em geral é proibido nas salas de aula, sendo, em alguns poucos casos, usado pelos professores como ferramenta pedagógica. Buscou-se analisar como se constroem as interações em sala de aula, entre alunos e destes com as professoras, mediadas pelo uso dos smartphones. Investigaram-se as perspectivas dos diferentes sujeitos para a utilização desses dispositivos, as estratégias e negociações que desenvolvem em torno deles e a percepção dos atores quanto à eficácia ou não do uso pedagógico dos smartphones. O referencial teórico adotado foi o da sociologia da sala de aula, mobilizando instrumentos analíticos interacionistas, tais como papéis sociais, ofício de aluno, perspectivas, estratégias e negociações. Foi realizada uma pesquisa em uma escola pública da região metropolitana de Belo Horizonte (MG), em duas salas de aula da primeira série do ensino médio, focalizando as disciplinas de Física, em que o smartphone era empregado como ferramenta pedagógica, e de Biologia, em que o uso do smartphone pelos alunos era proibido. Realizaramse observações das aulas dessas disciplinas durante o primeiro semestre letivo de 2017; aplicouse um questionário para todos os alunos das duas salas e, finalmente, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com as duas professoras e com 14 alunos, sendo sete de cada turma. Os dados coletados confirmaram a importância de se considerar as subjetividades juvenis contemporâneas na compreensão do modo como os jovens exercem seu ofício de aluno, bem como a relevância dos smartphones como artefatos de influência na construção dessas subjetividades. Revelaram ainda que, segundo a percepção dos alunos e professoras entrevistados, a utilização dos celulares como ferramenta pedagógica contribui para a atratividade das aulas. Os resultados evidenciaram, sobretudo, a centralidade da ação docente na mediação das interações em sala de aula, indicando que o mais decisivo foram as estratégias das professoras. Constatou-se que ambas as docentes podiam ser consideradas eficazes quanto a negociar o sentido das atividades propostas evidentemente, dentro dos limites do jogo escolar e provocar a mobilização da maior parte dos alunos em torno delas.Access to digital technological artifacts has been changing life in society, and it has also permeated school reality. Such changes bring questions to the field of Sociology of Education, for example, the need to understand the implications of digital technologies in the students and teachers activities, regarding the interactions they establish among themselves, the uses that make these technologies within the school and the impacts on school inequalities. This work specifically focuses on the smartphone, which has occupied centrality in the daily life of high school students, but is generally banned in classrooms, being used just in a few cases by teachers as a pedagogical tool. We sought to analyze how the interactions in the classroom are constructed, between students and among them and their teachers, mediated by the use of smartphones. We investigated the perspectives of the different subjects for the use of these devices, the strategies and negotiations that develop around them and the perception of the actors as to the effectiveness or not of the educational use of smartphones. The adopted theoretical framework was the sociology of the classroom, mobilizing interactionist analytical instruments such as social roles, student work, perspectives, strategies and negotiations. A research was carried out in a public school in the metropolitan area of Belo Horizonte (MG), in two first grade of high school classrooms, focusing on the disciplines of Physics, in which the smartphone was used as a pedagogical tool, and Biology, in which the students smartphone use was prohibited. Observations of the classes of these disciplines were made during the first semester of 2017; a questionnaire was applied to all students in both rooms and, finally, semi-structured interviews were conducted with the two teachers and with 14 students, seven of each class. The collected data confirmed the importance of considering the contemporary juvenile subjectivities in the understanding of the way in which young people exercise their students office, as well as the relevance of smartphones as influential artifacts in the construction of these subjectivities. They also revealed that, according to the perception of the interviewed students and teachers, the use of cell phones as a pedagogical tool contributes to the attractiveness of the classes. The results evidenced, above all, the centrality of the teaching activity in the mediation of the interactions in the classroom, indicating that the most decisive were the teachers strategies. It was found that both teachers could be considered effective in negotiating the meaning of the proposed activities - evidently, within the limits of school play - and provoke the mobilization of the majority of students around them