Relação indivíduo-corpo na obesidade : análise sob o olhar de Merleau-Ponty

A obesidade é uma questão de saúde pública no mundo. É um fenômeno que gera complicações, tanto em nível coletivo como individual. A vivência do fenômeno ser obeso vem acompanhada de dificuldades nas atividades cotidianas e sentimentos como ansiedade, culpa, tristeza etc. É considerada fator de risco para diabetes mellitus, hipertensão, câncer, entre outras. Tem uma complexa trama de fatores como etiologia, variando entre fatores: genéticos, estilo de vida, questões psíquicas, sociais, culturais e econômicas, além de impactar a forma corporal. A respeito da temática corpo, temos a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty que coloca o corpo em um papel central. Para ele, por meio do corpo o indivíduo existe e se coloca no mundo, com o corpo ele tem sensações e percepções acerca de si mesmo e do mundo. Não é simplesmente o corpo biológico, tem mais de uma expressão, carrega significados e valores individuais e culturais. Cada pessoa vive e sente seu corpo a sua maneira, formando assim seu corpo vivido, também agrupa valores e significados no corpo, constituindo assim seu corpo próprio. Refletindo sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty e obesidade, interrogamos: Qual é o lugar que pessoas obesas dão a seu corpo? Como se relacionam com ele? Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender como indivíduos obesos se relacionam com o seu próprio corpo. Realizada pesquisa qualitativa, analítica e reflexiva, de abordagem fenomenológica. Fizemos entrevistas com cinco mulheres e sete homens, obesos de grau I e II, provenientes do projeto VigiCardio, desenvolvido dentro do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UEL. Realizamos análise de discurso, individualmente e, depois, coletivamente. Construímos três categorias: 1- Corpo obeso como algo não refletido: aborda o momento em que as pessoas não refletem sobre o próprio corpo e não acompanham as mudanças que as tornaram obesas. Foi perpassado por sentimentos como invulnerabilidade, ansiedade e revolta. 2- Corpo obeso como corpo obeso: mostra o momento em que a consciência se volta ao corpo, e as pessoas passam a viver como obesas. Revelou sentimentos como vergonha, tristeza e desânimo. 3- Corpo obeso como potencialidade de cuidados: evidencia as diferentes maneiras de executar ações para a melhora das condições de seu corpo, e também a possibilidade de não fazê-lo. Apesar de muito sofrimento, as pessoas obesas tiveram experiências de superação no momento do cuidado, como controle de doenças associadas, ou pelo simples fato de continuar vivendo com o corpo que tem. Nossas reflexões finais apontam para: forma de vida atual desfavorece o cuidado com o corpo, há dificuldade de várias ordens para o cuidado, mesmo com dificuldades as pessoas continuam tentando cuidar-se e perder peso. Alterar a forma do corpo interfere na identidade, pois a obesidade está próxima a fatos marcantes que geram sofrimento. Para os profissionais de saúde, o desafio é oferecer tratamento sem desprezar a subjetividade das pessoas obesas.Obesity is a public health issue in the world. It is a phenomenon that generates complications, both collective and individual levels. The experience of the phenomenon "being overweight" is accompanied by difficulties in daily activities and feelings such as anxiety, prejudice, guilt, sadness, etc. It is considered a risk factor for diabetes mellitus, hypertension, cancer, among others. It has a complex web of factors on etiology, ranging from factors: genetics, lifestyle, psychological, social, cultural and economic issues, as well as impact the body shape. Regarding the body theme we have phenomenology of Maurice Merleau-Ponty, which puts the body in a central role. For him, in his body the individual exists and take placed in the world, with the body he has feelings and perceptions about himself and the world. It is not simply the biological body, has more than one expression carries meanings and individual and cultural values. Each person lives and feel your body your way thus forming their "lived body", also groups values and meanings in the body, thus constituting his "own body". Reflecting on the phenomenology of Merleau-Ponty and obesity, we question: What is the place that obese people give their own body? How they relate to it? The objective of this research was to understand how obese individuals relates to their own body. Conducted reflective analytical qualitative study of phenomenological approach. We interviewed 5 women and 7 men, obese grade I and II, from the VigiCardio project, developed within the Graduate Diploma in Public Health, UEL Program. We conducted discourse analysis, individually and then collectively. Built three categories: 1- Obese body as something not reflected: covers the time when people do not reflect on their own body and not accompany the changes that become obese. It was crossed by feelings of invulnerability, anxiety and anger. 2-Obese body as obese body: shows the moment the consciousness back to the body and people start to live as obese. Revealed feelings like shame, sadness, discouragement. 3- Obese body as potential care: highlights the different ways to implement actions to improve the conditions of your body, and also the possibility of not doing it. Although much suffering, obese people had overcome experiences at the time of care, such as control of associated diseases, or simply by continuing to live with the body they have. Our final reflections point to: current form of life discourages the care of the body, it is difficult to several orders for care, even with difficulties people still trying to look up and lose weight. Change the shape of the body interferes with identity, obesity was next important events that generate suffering. For health professionals the challenge is to offer treatment without neglecting the subjectivity of obese people