Viver na incerteza : Adaptação dos pais no contexto de rapto e de alienação parental

Introdução: O presente estudo, desenvolvido no âmbito da Psicologia da Família, teve como principal objetivo analisar a adaptação de pais que, por motivo de rapto ou de alienação parental, vêem a sua parentalidade comprometida. Pretendeu-se contribuir para o conhecimento ainda escasso neste domínio da parentalidade, colmatando lacunas na investigação nacional e internacional através do estudo compreensivo do impacto do rapto de um/a filho/a pelo outro progenitor ou da vivência de uma situação de alienação parental percebida na adaptação dos pais, bem como dos fatores individuais e familiares que a influenciam. A caracterização da adaptação psicológica dos pais nestes dois contextos de adversidade é importante para o desenvolvimento futuro de intervenções multisistémicas baseadas em dados empíricos. Metodologia: A investigação adotou um desenho metodológico misto, paralelo convergente, englobando um estudo de revisão sistemática de literatura (Estudo I), dois estudos quantitativos e dois estudos qualitativos. Participaram no Estudo II 173 participantes (n= 45 homens e n= 128 mulheres); o Estudo III contou com 106 participantes (53 pais alvo de alienação parental percebida e 53 pais de uma amostra comunitária). O Estudo IV contou com 8 participantes (n= 5 homens e n= 3 mulheres), tratando-se de um estudo qualitativo sobre pais alvo de alienação parental. O último estudo incluiu 8 participantes do sexo masculino, tratando-se de um estudo sobre pais que experienciaram rapto parental. Resultados: A revisão sistemática contribuiu para um maior conhecimento sobre a temática das crianças desaparecidas, uma vez que os resultados permitiram identificar quatro temáticas chave, contribuindo para a definição da população alvo do presente projeto. O estudo das características psicométricas da escala conflito interparental silencioso permitiu a disponibilização, em Portugal deste instrumento de autorrelato que poderá simultaneamente contribuir para a intervenção clínica e fomentar futuras investigações sobre famílias em adversidade. No que diz respeito ao Estudo III de cariz quantitativo, este permitiu comparar indicadores de adaptação individual e funcionamento familiar entre pais alvo de alienação parental e de pais de famílias da comunidade. A comparação contribuiu para uma caracterização mais rigorosa e abrangente do funcionamento das famílias expostas a este evento negativo. Relativamente, aos estudos qualitativos sobre a perceção dos pais, foi possível identificar a perceção da adaptação individual e familiar, bem como a avaliação de significados dos pais quanto às situações de rapto e de alienação parental. Conclusões: As implicações para a investigação e clínicas dos resultados permitiram caracterizar a adaptação individual e familiar dos pais alvo de rapto e alienação parental, possibilitando compreender os recursos que facilitam a reorganização individual e familiar e, consequentemente, contribuir para a reflexão sobre a intervenção psicológica com as famílias nestes contextos de adversidade.Introduction: The present study in the field of Family Psychology aimed at analyzing the adaptation of parents who, due to parental abduction or parental alienation, experienced a compromised exercise of their parenting roles. This research aimed at contributing to the scarce knowledge on these parenting domains, addressing key national and international research gaps. Specifically, we carried out a comprehensive study of the impact of a child’s abduction by the other parent or of living a situation of perceived parental abduction on parents’ adaptation, as well as its influencing individual and family factors. Mapping the psychological adaptation of parents in both these adverse contexts is relevant for the future development of multisystemic interventions based on empirical data. Method: The research adopted a mixed, parallel convergent methodological design, encompassing not only a systematic literature review but also two quantitative and two qualitative studies. Study II had 173 participantes (n= 45 men and n= 128 women); Study III had 106 participants (53 parents who perceived being the targets of parental alienation and 53 parents in the community). Study IV, a qualitative research on the experience of parents in the context of parental alienation had 8 participants (n= 5 men and n= 3 women). The last study on the experiences of parents in the context of parental abduction included 8 male participants. Results: The systematic review broadened the knowledge about missing children, as results allowed to identify four key themes and contributed to the definition of the target population of this project. The study of the psychometric characteristics of the silent interparental conflict scale allowed to make available, in Portugal, this self-report instrument that can, simultaneously, contribute to the clinical interventions and encourage future research on families in adversity. With regard to Study III, this quantitative research allowed comparing indicators of adaptation and family functioning between samples of parents targeted by parental alienation and parents of families in the community. The comparison contributed to a more rigorous and comprehensive maping of the functioning of families exposed to this negative event. With regard to the qualitative studies, it was possible to identify the perception of individual and family adaptation, as well as parents' meanings regarding the events of abduction and parental alienation. Conclusion: Finally, the implications for the investigation and clinical results allowed for the description of individual and family adaptation in parents who experienced parental abduction and alienation. Additionally, our findings allowed to understand the resources that facilitate individual and family reorganization and, consequently, contribute to the reflection on psychological intervention with families in these specific contexts of adversity.Bolsa da Faculdade de Psicologia e da Universidade de Lisbo