Reconfiguração do conceito de montagem na ficção televisual expandida

Este estudo nasce do cruzamento de dois fenômenos: a montagem e a expansão narrativa. A montagem é aqui entendida de modo amplo, como a composição de fragmentos para gerar um todo dotado de poética e sentido. A expansão narrativa, por sua vez, é com preendida como o desenvolvim ento de elem entos narrativos pertencentes a uma obra em outras obras. Ambos são fenômenos antigos presentes nas mais diversas formas expressivas. Para relacionar um ao outro, este estudo analisa o universo narrativo da série televisiva Twin Peaks. A série norte-americana, exibida pelo canal ABC durante os anos de 1990-91, é uma obra televisual na qual identificamos o fenômeno da expansão narrativa. A série possui cinco obras complementares que estendem e enriquecem seu enredo, são elas: três livros, um áudio livro e um filme2. O objetivo deste estudo é analisar as relações de montagem entre as seis obras que compõem o Sistema Twin Peaks . Partimos da hipótese de que há uma reconfiguração da montagem no contexto das narrativas expandidas, já que nelas o processo de composição ultrapassa a unidade da obra. No caso de Twin Peaks, a montagem ultrapassa também o meio televisual, relacionando-o narrativamente com meios de naturezas distintas, como a literária, a sonora e a cinematográfica. Buscamos apoio nos estudos de Sergei Eisenstein (2002 e 2008) para propor a ideia de uma montagem “transversal”, resultante das conexões entre diferentes obras que compõem um único universo narrativo.