PANORAMA CARDIOVASCULAR DOS ADOLESCENTES BRASILEIROS - ERICA: PREVALÊNCIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, OBESIDADE E DISLIPIDEMIA

INTRODUÇÃO: As doenças cardiovasculares são a principal causa de morbimortalidade no Brasil e no mundo e estão associadas à hipertensão arterial, obesidade e alterações dos lipídeos plasmáticos e suas lipoproteínas. OBJETIVO: Estimar as prevalências de hipertensão arterial, obesidade, níveis alterados de colesterol total e suas frações, e triglicerídeos em adolescentes brasileiros. MÉTODOS: A amostra do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) foi obtida a partir de 32 estratos geográficos e conglomerados de escolas e turmas, com representatividade nacional, macrorregional e de capitais segundo idade e sexo de acordo com as regiões do Brasil. Considerou-se hipertensão arterial a média da pressão arterial sistólica ou diastólica maior ou igual ao percentil 95 da curva de referência. A obesidade foi classificada pelo índice de massa corporal. Avaliou-se a média e distribuição dos níveis plasmáticos de colesterol total, LDL-colesterol, HDL-colesterol e triglicerídeos. Estimou-se as prevalências e intervalos de confiança de 95% (IC95%) de hipertensão arterial, de obesidade e dos níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos. RESULTADOS: Foram avaliados 73.399 estudantes com dados de antropometria e pressão arterial, sendo 55,4% do sexo feminino, com média de idade 14,7 anos (DP = 1,6). A prevalência de hipertensão arterial foi 9,6% (IC95% 9,0-10,3); sendo as mais baixas observadas nas regiões Norte, 8,4% (IC95% 7,7-9,2) e Nordeste, 8,4% (IC95% 7,6-9,2) e a mais alta na região Sul, 12,5% (IC95% 11,0-14,2). A prevalência de obesidade foi 8,4% (IC95% 7,9-8,9), mais baixa na região Norte e mais alta na Sul. As prevalências de hipertensão arterial e obesidade foram maiores no sexo masculino. Adolescentes com obesidade tiveram prevalência de hipertensão arterial mais elevada, 28,4% (IC95% 25,5-31,2), do que aqueles com sobrepeso, 15,4% (IC95% 13,8-17,0), ou eutróficos, 6,3% (IC95% 5,6-7,0). A fração de hipertensão arterial atribuível à obesidade foi de 17,8%. Entre os 38.069 adolescentes do turno da manhã com dados bioquímicos, 59,9% eram do sexo feminino; 54,2% com idade entre 15 a 17 anos. Os valores médios encontrados foram: colesterol total 148,1 mg/dl (IC95% 147,1-149,1). Adolescentes do sexo feminino apresentaram níveis médios de colesterol total, LDL-colesterol e HDL-colesterol mais elevados, mas sem diferença nos níveis de triglicerídeos. Não houve diferença significativa de valores médios entre adolescentes de 12 a 14 e de 15 a 17 anos. As alterações com maior prevalência foram HDL-colesterol baixo (46,8% [IC95% 44,8-48,9]), hipercolesterolemia (20,1% [IC95% 19,0-21,3]) e hipertrigliceridemia (7,8% [IC95% 7,1-8,6]). O LDL-colesterol elevado foi observado em 3,5% (IC95% 3,2-4,0) dos adolescentes. As prevalências de HDL-colesterol baixo foram mais elevadas nas regiões Norte e Nordeste do País. CONCLUSÕES: O ERICA foi o primeiro inquérito brasileiro com representatividade nacional a estimar a prevalência de hipertensão arterial aferida e analisar dosagens bioquímicas plasmáticas em adolescentes. Tais achados revelaram que cerca de 1/5 dos hipertensos poderiam não ser hipertensos se não fossem obesos, além de identificar uma parcela significativa dos adolescentes brasileiros com alterações dos lípides plasmáticos. Isso reforça a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas voltadas para prevenção de risco cardiovascular. PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes; Obesidade; Hipertensão; Colesterol; Epidemiologia.