O PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO 1945-1955

O artigo pretende estudar o pensamento econômico brasileiro no período 1945-1955, entendido como expressão ideológica das disputas entre as frações de classe da grande burguesia em torno da condução da política econômica. O exame das condições econômicas e políticas do período em análise permite distinguir três correntes políticas-ideológicas que reuniam diferentes frações da classe dominante. A corrente industrialista tradicional reunia os representantes da burguesia industrial, técnicos do Estado e militares nacionalistas. A atuação do departamento econômico da CNI que editou a revista Estudos Econômicos e a criação da FGV que editava a revista Conjuntura Econômica foram decisivas para o amadurecimento teórico do projeto industrialista tradicional na segunda metade dos anos 1940. Na década de 1950 a difusão da teoria do desenvolvimento da Cepal formulada por Raul Prebisch e Celso Furtado forneceu uma base teórica mais sólida à corrente industrialista tradicional. A corrente industrialista entreguista reunia os representantes da burguesia industrial norte-americana e das frações da burguesia industrial brasileira associada ao capital estrangeiro. A difusão da teoria do desenvolvimento formulada pelos técnicos da ONU como Ragnar Nurkse e Hans Singer abasteceu os industrialistas entreguistas de elementos mais bem acabados do ponto de vista teórico. A corrente liberal unia os porta-vozes da burguesia comercial e financeira e dos latifundiários, além de diversos políticos, jornalistas e acadêmicos. A organização do Núcleo de Economia da FGV, que editou a Revista Brasileira de Economia e criou a Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, foi decisiva para elevar o nível teórico do pensamento econômico liberal no Brasil. Tomando-se por base os conflitos intraclasse dominante e sua expressão ideológica (particularmente teórica), pode-se reconhecer três debates condutores do pensamento econômico brasileiro no período entre 1945 e 1955. Em primeiro lugar, está o debate sobre o reaparelhamento da indústria e da infraestrutura econômica, que unia a grande burguesia em torno do projeto industrialista de acelerar a industrialização para substituir importações, expandir a agricultura capitalista e ampliar os investimentos públicos em energia e transporte. No segundo debate, sobre a inflação, a burguesia comercial-financeira e os latifundiários defendiam a proposta liberal de reduzir os gastos públicos e as emissões para controlar a demanda, enquanto a burguesia industrial apoiava a proposta industrialista de ampliar o crédito direcionado e o investimento público para aumentar a produção. No debate sobre a política cambial, por fim, há uma inflexão entre os dois governos. Durante o governo Dutra a burguesia industrial defendia a desvalorização cambial enquanto os cafeicultores, comerciantes e banqueiros defendiam a manutenção do câmbio fixo. Durante o governo Vargas a burguesia industrial passa a defender o câmbio fixo, enquanto os comerciantes, banqueiros e latifundiários defendem a desvalorização.