O TELECURSO® COMO ESTRATÉGIA DE SUBSTITUIÇÃO TECNOLÓGICA E ALIENAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NO PROGRAMA DE CORREÇÃO DE FLUXO DO RIO DE JANEIRO

Este artigo analisa o uso intensivo das tecnologias como estratégia de substituição tecnológica configurando um processo de alienação do trabalho docente no Programa de Correção de Fluxo do Rio de Janeiro. Esse compreende uma política de aceleração de estudos para corrigir a defasagem idade-série na educação básica, destinado a alunos com idades entre 13 e 17 anos que queiram concluir o Ensino Fundamental, e entre 17 e 20 anos que queiram fazer o Ensino Médio, em menos tempo, matriculados nas escolas estaduais. Minha premissa é que as teleaulas do Telecurso® utilizadas no processo de ensino-aprendizagem vêm reconfigurar o trabalho docente no sentido de retirar do professor a pré-mediação do seu trabalho e, fundamentalmente o conhecimento que lhe pertence. Seguindo a lógica de mercado e desencadeando um processo de alienação da concepção, execução e do seu produto, o professor não se reconhece no próprio trabalho devido à desefetivação da sua etapa de criação do conteúdo a ser trabalhado. Nesse sentido, este artigo perpassa o conceito de trabalho concreto e trabalho abstrato, bem como trabalho simples e trabalho complexo, sob o viés marxista, de modo a utilizar o argumento de Marx de que o capitalismo tende a transformar todo trabalho concreto e, portanto complexo, em trabalho abstrato, simples, ou seja, no mundo capitalista, a tendência é diminuir cada vez mais a dependência das capacidades e qualidades do trabalhador, no caso desse artigo, do professor. Nesse contexto, o Telecurso® assume o papel de sujeito no processo de ensinar e aprender, secundarizando a função do professor que se torna um mero executor, passando a apenas administrar o tempo de contato da tecnologia com o aluno, tendo como elemento central as teleaulas que foram concebidas por outrem. Com o intuito de relacionar essa prática recorrente na sala de aula do Correção de Fluxo com as formulações propostas em documentos que alicerçam as políticas públicas educacionais e compreender como se dá o processo de substituição tecnológica e alienação do trabalho docente, pretendo analisar o discurso do Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) no que tange à centralidade das tecnologias na esfera educacional, tomando como aporte teórico a análise crítica do discurso de Norman Fairclough. Para tanto, este artigo está dividido em quatro seções: (1) Introdução; (2) O fetiche tecnológico no PNE 2014-2024: uma análise crítica do discurso; (3) A reiteração do fetiche na sala de aula: da substituição tecnológica à alienação do trabalho docente e (4) Considerações finais. Palavras-chave: uso intensivo das tecnologias; alienação do trabalho docente; análise crítica do discurso.