VÍDEO ARDENTIA: UMA FERRAMENTA INTERATIVA DE EXTENSÃO PARTICIPATIVA

O presente trabalho concerne à criação de um vídeo-documentário sobre o Projeto ARDENTIA, integrante da pesquisa do programa EICOS-UFRJ sobre o uso do audiovisual como ferramenta de pesquisa psicossocial. O seu enfoque pressupõe elementos básicos que atravessam os avanços tecnológicos, sociais e culturais, visto ser uma representação que implica acontecimentos, ação, movimento, personagens. Os recursos básicos da linguagem cinematográfica aparecem fundidos para expressar harmonia e verossimilhança resultando em um produto que gera sentidos para o grupo social, para a pesquisa e para o espectador. Ao longo do tempo, o filme se provou eficaz catalisador entre o homem e a realidade, contribuindo para a reflexão e construção do imaginário coletivo e de novas práticas sociais. Na perspectiva da extensão, suas principais referências são (a) o programa de estudos sobre metodologias participativas de projetos de extensão, coordenado por Michel Thiollent na COPPE/UFRJ; (b) tendência internacional do extensionismo rural emergente nos anos 1990 de superação do modelo clássico de transferência de tecnologia por um novo paradigma constituído pelo diálogo e a participação, designado “participatory extension”. O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o vídeo ARDENTIA como uma ferramenta interativa, que proporciona um processo dialógico às ações de assistência técnica e extensão pesqueira participativa nas atividades de integração, nas fases de “projetação” e “investimentos sustentáveis” e nos feedbacks para os auxiliares técnicos, equipe técnica e convidados, culminando com a exibição do vídeo no Fórum de Extensão Pesqueira - evento de encerramento do Projeto Ardentia. A Metodologia interativa, de cunho etnográfico, utiliza o registro audiovisual como ferramenta de pesquisa. A partir dos dados e contatos levantados no primeiro ciclo do Projeto Ardentia, foram feitas as primeiras abordagens com lideranças e grupos sociais para a escolha dos cenários, personagens, apetrechos e pauta da filmagem. Tal processo dialógico resultou em 03 etapas de filmagens. No processo de captura dos depoimentos optou-se pela não interrupção da narrativa, estabelecendo o princípio do fluxo de memória, focado no processo psicossocial de conscientização, prática e compartilhamento de significados. Os resultados com as filmagens no campo proporcionaram de forma mais intensa mudanças na perspectiva inicial de documentação e difusão das ações do projeto transformando-se em ferramenta interativa de auxílio ao processo, por se constituir um suporte de mediação ao assessoramento dialógico na etapa da projetação, tornando a sua produção intrínseca às atividades de assistência técnica e extensão pesqueira participativa. A composição do filme em seu processo de criação - entrevistas, escolha das locações, enquadramentos de pessoas, objetos, artefatos da pesca e cenários - nos coloca continuamente diante das questões da identidade pesqueira. Os pescadores e mulheres da pesca se adaptam continuamente às mudanças climáticas/ ambientais/ sociais, aos sistemas de produção e manejo, ao mesmo tempo em que buscam manter vivos os princípios da pesca artesanal. Percebemos assim, que a ativação da filmagem como metodologia psicossocial pode colaborar como um disparador de reflexão sobre o “estado da pesca” e dos desdobramentos dessa tradição na construção de sua memória na contemporaneidade. Palavras-chave: extensão pesqueira, memória, identidade, audiovisual