BOTA FOGO NA SENZALA - O JONGO COMO POSSIBILIDADE DE RELEITURA DA HISTÓRIA

O presente trabalho tem como objetivo expor o processo de pesquisa em culturas populares, em especial o Jongo, buscando compreender como o mesmo constitui práticas de resistência, releitura e reescrita da História negra no campo acadêmico. A pesquisa se desenvolve com fins de monografia do curso de Bacharelado em História, mas ultrapassa os muros da Universidade no que diz respeito a reflexões, vivências e práticas. Prática surgida na região conhecida como Vale do Rio Paraíba - região sudeste do Brasil, o jongo se manifesta como um universo criado por pessoas negras em situação de escravidão, envolvendo desde a palavra, ao canto, a dança, o toque além de práticas espirituais específicas. Este processo, que é histórico não se engessou no tempo e no espaço, chegando nos dias de hoje, no Rio de Janeiro contemporâneo, cenário das pesquisas e práticas que serão apresentadas. Morro da Serrinha. Arcos da Lapa. Viaduto Negrão de Lima. Estes são alguns dos espaços onde hoje podem-se ouvir "pontos" (nome dado aos cantos no jongo) como o que dá título a este trabalho. Locais que não são as lavouras de café ou senzalas onde o jongo surgiu, mas que propõe outras dinâmicas de resistência e ressignificação das culturas populares e da existência negra. "Oi bota fogo na senzala onde negro apanhou", o ponto, da comunidade Jongo de Angra dos Reis nos coloca no lugar de refletir historicamente sobre os sujeitos e narrativas que constituem o discurso acadêmico acerca da história dos povos negros no Brasil bem como da História da África. Muito além dos sujeitos passivos ou "sem história", a partir deste trabalho de pesquisa, vivência e experienciação é possível perceber que mesmo a mercê de uma "história única", homens e mulheres negras criaram, contaram e contam (neste trabalho, com recorte para o jongo) suas próprias histórias, botando fogo nas senzalas físicas e simbólicas que insistem em manter um espectro de racismo e marginalização ao redor de indivíduos negros e suas histórias. Palavras chave: jongo; história; reescrita; pesquisa