Práticas artísticas, ações afirmativas

No ano de 2010, ingressei na Universidade Federal do Rio de Janeiro através de seu vestibular. E em 2016, encerrei minha trajetória acadêmica como graduando com a aquisição do título de Bacharel em Artes Visuais com ênfase em Escultura pela Escola de Belas Artes dessa mesma universidade. Tendo por origem uma família de parcos recursos financeiros, pude concluir meus estudos universitários através da concessão de uma bolsa auxílio vinda do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que apoia a permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação em instituições federais de ensino superior. É relativamente recente a existência de políticas como essa em universidades federais. Foi somente a partir de 2008, quando o governo federal condicionou a destinação de recursos do Reuni para instituições federais à sua adesão a programas de ação afirmativa, e em 2013, quando começou a ser implementada a Lei Federal 12.771/2012, que torna obrigatória reservas de vagas em todas as instituições federais de ensino superior, que se tornou expressiva a existência de suas ações afirmativas. Logo, datam aproximadamente quatro anos desde a determinação efetiva para implementação de tais políticas públicas de acesso e permanência nas universidades federais e a presente data de redação deste resumo.Contudo, os anos de graduação, através do PNAES, não me deram somente o título universitário, quase inaudito aos mais pobres. Conhecer pessoas de estratos sociais distintos a partir da universidade me possibilitou acessar a cidade de outra maneira; não mais com uma sensação de não pertencimento, estrangeirismo ou déficit de conhecimento em relação aos aparelhos culturais citadinos, mas como um novo integrante daquele corpo social, sem aparentes empecilhos à minha circulação para além da lembrança constante de que nem sempre estive ali e que muitos outros, que compartilharam condições em vida semelhantes às minhas, não estavam naqueles lugares. Isso me fez perceber que não havia conversado sobre isso com outras pessoas que, assim como eu, acessaram a universidade através de ações afirmativas e desenvolviam práticas artísticas em pleno processo do desenvolvimento de sua visibilidade pública.Mas, apesar disso, este não é um resumo de um trabalho concluído. Este é um resumo de um trabalho em que abordarei meu processo de concepção, justificação histórica e, sobretudo, de desistência do livro ‘Práticas artísticas, ações afirmativas’, em que pretendi elencar, através de um pessoal recorte, artistas contemporâneos de certo reconhecimento público que guardassem contato evidente como beneficiários dos programas de apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade social nas universidades. Mas é nessa desistência que se faz visível a importância dos bolsões de vazios onde habitamos no agora; espaços de iminência que atos como tal deserção nos fazem perceber. palavras chaves: ações afirmativas; arte; universidade