Reflexões sobre a produção e a gestão cultural no Brasil.

Desde a criação do Ministério da Cultura, em 1985, temos em vigor as leis de incentivo, constituindo a forma predominante de financiamento à cultura no país. É inegável que nas décadas de 1980-1990, tivemos o incremento significativo na oferta de espetáculos culturais, festivais de música, produção cinematográfica, entre outras produções artístico-culturais, financiados. Contudo, é necessário alertar que houve a crescente injeção de recursos públicos no mercado cultural, dinamizando o setor com o aumento do número de projetos, empresas e infra-estrutura. Nesse momento, temos em evidência a figura do produtor cultural no Brasil, conhecido como o indivíduo que captava recursos para produzir um seminário ou um evento.Segundo Albino Rubim (2007, p. 09), as leis de incentivo escamoteiam a ausência de uma política cultural, permitindo que as empresas decidam quais os projetos serão ou não incentivados por meio de seus departamentos de marketing. Uma das consequências mais graves é a maior concentração e centralização dos recursos no eixo Rio-São Paulo, que favorecem, em maior parte, aos artistas consagrados pela grande mídia, excluindo assim a ampla diversidade cultural brasileira. Trata-se de uma lógica mercadológica, que deve ser revista já que as empresas têm poder de decisão, mas o dinheiro, na verdade, é público.No Brasil, as ações culturais foram durante muito tempo orientadas por governos, agentes culturais e artistas que atuam mais de forma pontual do que através da capacidade criativa de planejar e prever situações. Entretanto, nos anos 2000, temos uma série de programas e ações do governo que estimularam ações contínuas na área da cultura com a participação da sociedade civil, a exemplo do Programa Cultura Viva, de 2004, no qual se discutiu a ampliação do conceito de cultura, que inovou com sua forma de ação que incentivou discussões entre os cidadãos e a gestão compartilhada.Nesse novo contexto, pesquisadores têm alertado os perigos das leis de incentivo como única política de Estado, e indicam que para além da produção cultural, é necessário o investimento em gestão cultural, conforme ocorreu em outros países da América Central e Latina, que dedica-se ao planejamentos a longo prazo, buscando a melhor concentração de recursos e esforços. Esse último necessita de profissionais sensíveis às diferentes manifestações artísticas, e também conhecedores de noções administrativas que tornam o exercício da arte possível, viabilizando a distribuição e consumo de manifestações culturais