Cegos fotografando a cidade: Ampliando territórios na partilha de múltiplas visões

Uma das mais frequentes preocupações dos projetos de acessibilidade à cidade é assegurar que pessoas com deficiência física possam se deslocar e ter acesso a locais aos quais, em princípio, elas estariam impossibilitadas ou com dificuldade de atingir, circular, participar e apreciar. Nisto estão incluídos ambientes voltados para a vida cultural na cidade como cinemas, teatros, parques, museus e casas de show. Limites ao acesso, à circulação, à participação e à fruição da cidade também atinge pessoas com deficiência visual. Neste contexto, o projeto de extensão “Encontros Multissensoriais” visa construir diferentes formas de acessibilidade cultural, dentre as quais se encontra a atividade de fotografar a cidade por parte de pessoas cegas e com baixa visão. A Oficina de Fotografia coordenada por Willy Rulff no Instituto Benjamin Constant compõe um dos braços do projeto e é inspirada pelo trabalho do fotógrafo cego Evgen Bavcar, sendo orientada pelo Método da Cartografia (Passos, Kastrup, Escóssia, 2009). Nela, são realizados passeios fotográficos em que vamos a algum ponto da cidade escolhido em conjunto com os participantes, de modo a transitar, conhecer e fotografar. Cada passeio é registrado através de fotografias pelos participantes e através de diários de campo pela equipe. Num segundo encontro, todos discutem a experiência do passeio e as fotos realizadas.Os passeios são uma aposta de intervenção na cidade, onde a fotografia serve como um fio condutor na rede de encontros formada pelos participantes da oficina, os locais visitados, os pesquisadores e as pessoas videntes que por ali circulam. A intervenção acontece na medida em que a fotografia realizada por pessoas cegas explora suas diferentes potencialidades na interação com o território urbano, amplia maneiras de se apropriar desses espaços e gera perturbações em paradigmas habituais sobre as visões habilitadas a produzir imagens da cidade