Arte e vida: acessibilidade estética para cegos e videntes

A acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual em museus de arte e centros culturais está cada vez mais na agenda de todo o mundo. O projeto de extensão "Encontros Multissensoriais", coordenado pela Professora Virgínia Kastrup e desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Cognição e Coletivos (NUCC) e o Instituto Benjamin Constant (IBC), tem como um de seus objetivos organizar e acompanhar visitas de grupos de cegos e videntes a exposições de arte, avaliando estratégias e dispositivos de acessibilidade para a produção da experiência estética. O trabalho apoia-se nos conhecimentos da psicologia cognitiva da deficiência visual e a pesquisa utiliza o método da cartografia, proposto por Deleuze e Guattari (1995) e desenvolvido por Passos, Kastrup e Escóssia (2009) que constitui uma pesquisa-intervenção e envolve o acompanhamento de processos, a emergência de problemas de pesquisa em campo e a devolução dos resultados às instituições participantes. Neste trabalho analisaremos duas visitas à exposição artevida na Casa França-Brasil, em setembro de 2014, onde foram exploradas réplicas de obras de artistas brasileiros contemporâneos como Hélio Oiticica e Lygia Clark. No caso, os recursos multissensoriais envolvendo o corpo sensível dos visitantes seria seu diferencial, pois houve a possibilidade do toque e da experiência direta das pessoas cegas, o que ainda é raro quando se pensa em projetos de acessibilidade. As duas visitas tomaram como referência a experiência desenvolvida de 2011 a 2013 no MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro). As visitas promoveram o encontro de grupos heterogêneos de cegos e videntes, o contato com obras de arte visando a experiência estética e uma mediação preocupada com a participação, troca e afeto dos envolvidos. É previsto um momento inicial de sensibilização, que serve de convite à atenção dos participantes, um segundo momento de contato com as obras, e um momento final de troca de experiências numa roda de conversa. No contexto da mesma metodologia e política de acessibilidade, a visita à Casa França-Brasil gerou analisadores para a pesquisa, dentre os quais se destacam: as estratégias de mediação - centralizada ou distribuída, vertical ou transversal, voltada para a transmissão de informações ou para a experimentação compartilhada - e a gestão do tempo da visita. O trabalho conclui que a arte contemporânea oferece grande possibilidade de ser experimentada por pessoas cegas e aponta limites ligados a uma tradição cultural-museológica no que concerne à recepção desse público