A psicologia na corda bamba do circo social: construindo redes

Este trabalho surgiu através das práticas do Projeto de Extensão “Psicologia social, alteridade e intervenção em instituições do terceiro setor na cidade do Rio de Janeiro”, financiado pelo programa de bolsas PIBEX. Ele partiu do desejo das alunas em articular a psicologia às atividades de uma ONG que trabalha com circo social localizada no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro. A iniciativa foi acolhida pela orientadora, dando início a um percurso de presenças semanais das bolsistas na instituição, em vigor há 10 meses. A horizontalidade de caráter autogestionário que deu origem ao projeto, é a mesma premissa que sustenta nossas formas de atuação no campo. Ao longo do processo de habitação neste território, de acordo com a proposta metodológica da cartografia psicossocial de Suely Rolnik, foi possível perceber um distanciamento entre o espaço universitário e a realidade das práticas que acontecem fora dele. A extensão se apresentou como uma possibilidade de fazer essa costura mais claramente, ao nos depararmos com os problemas cotidianos do fazer da psicologia e buscarmos reflexões teóricas que possibilitassem a compreensão desses processos não como dicotômicos, mas com limites e separações que se complementam em gradações. O convite para a entrada na ONG se deu a partir da identificação de problemas por seus coordenadores, e a psicologia surgiu como uma resposta possível a estas demandas. Nossa presença mapeou dificuldades nos profissionais de fazer conversar a dimensão do ensino da técnica circense e a construção de cidadania que também norteia o trabalho da institução. O resultados deste acompanhamento demonstram a mudança na construção da demanda de nossa presença, considerando mais importante o cuidado da saúde mental dos educadores em relação aos educandos, ao percebermos traços de sofrimentos éticos e políticos neste fazer, além da necessidade de trabalhar temas como racismo e preconceitos em geral. Deste modo, a partir desses resultados, buscamos promover reflexões sobre assuntos que emergiram como questão no grupo: saúde mental, homofobia, racismo, formas de intervenção pedagógica e outros temas. Os trabalhos de Sawaia, que discutem o sofrimento ético político, e Yamamoto, que problematiza o terceiro setor, a psicologia e seu compromisso social foram importantes referenciais que permitiram promover reflexões a partir deste espaço, mas que também podem se estender a instituições similares. Os problemas aqui identificados não são exclusivos e remetem à compreensão dos modos de funcionamento deste tipo de empresa. Neste sentido, a afetação surge como uma estratégia para nortear a sensibilidade no campo e tornar possíveis as negociações para encaminhamentos de problemas. Acreditamos ser também de responsabilidade da psicologia a criação de alternativas a realidades já naturalizadas, buscando colocar perguntas onde não tinham sido formuladas