Não sejas assim!: personagens - alter ego e encenação

Trabalho de Projecto submetido à Escola Superior de Teatro e Cinema para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Teatro – Especialização em Encenação.O Trabalho de Projecto que conclui o meu Mestrado em Teatro – Encenação debruçou-se sobre a problemática da encenação num contexto muito específico: o das personagens-alter ego. Estas personagens, que na minha definição são caracterizadas por uma extraordinária autonomia dramatúrgica e contextual e por uma relação especialmente estreita com os actores que as criam, lançam desafios muito particulares à encenação, a nível prático e a nível conceptual. Para tentar responder a esses desafios, estabeleceu-se (em colaboração com uma actriz e um dramaturgo) um projecto que envolveu a criação de uma personagem-alter ego, seu desenvolvimento, e posterior criação de um espectáculo, em que se testaram as possibilidades, limites e problemas da acção de um encenador em tal contexto. Esse projecto, denominado “Tia Silvina”, começou a desenvolver-se em meados de 2009, com o espectáculo a ser estreado em fim de Março de 2011. Sendo certo que a pesquisa que enforma este trabalho termina aqui, o projecto “Tia Silvina” continua vivo. Da análise do processo de ensaios e do próprio espectáculo resultou a confirmação de muitas das dificuldades esperadas: as personagens-alter ego resistem a uma direcção convencional, e exigem do encenador a renúncia – ainda que parcial – ao seu domínio autoral sobre o objecto teatral. Mais que isso, pôde concluir-se que a insistência por parte do encenador em imprimir a sua marca de forma mais evidente ameaçava a própria existência da personagem-alter ego, esvaziando-a em grande medida das suas características essenciais. Destas dificuldades e tensões foi possível retirar argumentos a favor de uma visão da criação teatral contemporânea baseada na co-autoria, à medida que o teatro e a performance se confundem, e os actores se reclamam cada vez mais “donos” das suas criações no palco. Este ensaio pretende enquadrar e descrever esse projecto e essas conclusões.ABSTRACT - The project which concludes my Masters Degree has focused on the subject of direction in a very specific context: that of alter ego characters. These characters, which I define by an extraordinary dramaturgical and contextual autonomy and by a specially close relationship with the actors who created them, pose quite a few challenges to direction, both practical and conceptual in nature. To try and meet those challenges, a project was drawn (working with an actress and a playwright) beginning with the creation of an alter ego character, its development, and finally the production of a stage show, to test the possibilities, limits and problems of the directors work in that context. That project, called “Tia Silvina”, began developing in mid-2009, and the show premiered in late March 2011. Although the research concerning this essay ends here, that project is still alive. Analysis of the rehearsal process, and of the show itself, confirmed many of the difficulties that were expected: alter ego characters resist conventional direction, and demand that the director relinquishes – even if not totally – his authorship of the theatrical object. Furthermore, we came to the conclusion that the insistence by the director in strongly imposing his mark threatened the very existence of the alter ego character, taking away some of its essential traits. From all those difficulties and tensions, arguments could be drawn in favour of a vision of contemporary theatrical creation that points to shared authorship, as theatre and performance mix, and actors increasingly claim “ownership” of their on-stage creations. This essay aims to frame and describe that project and those conclusions