Historias de viver o serviço social

O propósito deste trabalho foi compreender aspectos da vivência profissional da assistente social, buscando entender as razões de escolha e de permanência nesta profissão e investigando como se delineiam os aspectos gratificantes e frustrantes do Serviço Social. A partir de uma abordagem qualitativa de pesquisa, utilizou-se a técnica de história-de-vida para entrevistar assistentes sociais, buscando entender o significado que davam à sua vivência profissional. O grupo de entrevistadas constituiu-se de mulheres, formadas entre as décadas de 50 e 90, em escolas de Serviço Social no Brasil, que atuaram ou ainda atuam em atividades e programas diretamente com a população. Tinham diferentes experiências de trabalho, junto ao setor público e privado, em áreas como empresa, saúde, reabilitação, família, assistência, comunidade, ensino e pesquisa. O referencial de análise baseou-se em autores que fazem a relação entre conceitos psicanalíticos (da perspectiva Kleiniana) e temas sociais, tais como instituições, grupos e categorias profissionais; e em autores da sociologia que trabalham com o tema da condição feminina. As influências que levam à escolha da profissão de assistente social são múltiplas: a vontade de 'fazer coisas práticas', a imagem dinâmica transmitida por assistentes sociais, a oportunidade de ascensão funcional no local de trabalho, a influência religiosa e/ou da família; o sentimento de despreparo para passar na seleção de outros cursos e os limites financeiros que dificultam o acesso a cursos mais caros. O desejo de ser útil que parece estar por trás dessas motivações, pode ser relacionado, do ponto de vista psicanalítico, à tendência à reparação. As expressões de insatisfação ou de frustração com a atividade profissional que apareceram nas entrevistas referiam-se às situações de injustiça vividas pela população atendida; a algumas condições de trabalho como salários ruins, falta de reconhecimento, e interferências políticas, e a problemas na convivência profissional no ambiente de trabalho. Ou seja, situações em que o desejo de reparação não pode se realizar: são sentimentos de frustração e impotência os descritos pelas profissionais. Foram apontadas como razões de gratificação na profissão: as vivências profissionais que puderam ser traduzidas em amadurecimento pessoal, formação de vínculos de amizades e aquisição de habilidades; o desenvolvimento de atividades dinâmicas e de ensino. A percepção de ter contribuído para a mudança de alguma situação problemática ou de ter dado 'um toque pessoal' a algum programa ou atividade também foi valorizado, assim como o contato com a população e o reconhecimento, por parte desta, do trabalho realizado. As situações gratificantes são aquelas em que as assistentes sociais sentem que puderam criar algo positivo para outras pessoas e para si mesmas. A condição feminina é também fator importante que molda a vivência profissional: concessões, dificuldades e conciliações na vida doméstica são uma fonte de condicionamentos do projeto profissional da mulher, em geral, e da assistente social em particular. A maneira como assistentes sociais lidam com as escolhas, com os aspectos frustrantes ou satisfatórios da profissão está relacionada portanto, não só a fatores externos como também ao seu mundo interno.Not informed