A educação continuada sob o olhar da supervisora de enfermagem

Este trabalho é uma pesquisa qualitativa cujo objetivo central é problematizar o conceito e a prática da educação continuada sob o olhar da supervisora de enfermagem, que trabalha em um hospital de referência para urgência e emergência, com caráter público municipal, na cidade de Campinas interior do estado de São Paulo. Essa busca por ser uma pesquisa social, foi realizada com base na perspectiva hermenêutica-dialética, cujos pressupostos teóricos adotados se encontram em MINA YO (1999), defendidos por Gadamer e Habermas. Nesses pressupostos encontramos o respeito ao pesquisador enquanto ser social, com suas perspectivas sobre o mundo a ser investigado, onde também é inserido. Nessa intenção, o mesmo mostra as categorias analíticas sob as quais se estruturam as fases de busca dos dados e análise. Optamos por assumir as categorias "educação e trabalho em saúde", "conhecimento, trabalho e poder" e "a relação indivíduo, coletivo e instituição", que perpassaram a interpretação dos dados agrupados nos eixos temáticos: "conceito de educação continuada", "prática de educação continuada", "conseqüências da prática da educação continuada", "fatores que influenciam na prática da educação continuada" e "expectativas e críticas da educação continuada". A análise nos conduziu à constatação de que as supervisoras entrevistadas conceituam a educação continuada com fins tecnicistas e inerentes à função da enfermeira, com indicações de que as ações são separadas: enfermeira que trabalha com educação continuada e enfermeira assistencial. A educação como uma forma de transformação social, não se revelou nas falas, porém predominou o tipo "transmissão do conhecimento", o que associamos com a história da docilidade da enfermagem, como elemento politicamente interessante na manutenção das estruturas econômicas e com modelo de formação educacional. Muitas são as contradições que aparecem com relação à prática, revelando a importância das condições objetivas de trabalho oferecidas pela instituição para o aprimoramento da assistência de enfermagem prestada. A educação continuada necessita ser entendida pela enfermagem e órgãos formadores como um processo com poder de contribuir para transformar a realidade, desde que se permitam momentos de reflexão e criação conscientes das múltiplas determinações que afetam o agir profissional, que não pode ser reduzido à sua dimensão tecnicista. Só assim faz sentido construírem-se competências em saúde, em que o humano encontre espaço e se faça presente, resistindo à lógica do mercado que parece se impor sem resistência por falta de um questionamento crítico e político acerca de seus reais interessesThis work is a qualitative study designed to access the concept and practice of continuous education under the view of a chief nurse working in a public hospital in Campinas city. This hospital is the reference for emergency care in the city and surrounds. This social research was conducted on a hermeneutic-dialetic perspective, with theoretical basis cited by MINA YO (1999) after the work of Gadamer and Habermas. These premises refer to the investigator as a social being, with insertions in the world under investigation. We assumed categories such as "education and healthcare work", "knowledge, work and power" and "relations: individual, groups and institutions", that help on the interpretation of data in thematic items: "concept of continuous education", "practice of continuous education and its consequence", "factors that influence the practice of continuous education" and "expectations and critics on continuous education". The analysis leads us to the conclusion that the chief nurses have a technicist view of continuous education inherent to their health care practice. They understand that education and healthcare play distinct roles in the hospital. Education was seen merely as "transmission of knowledge", not as a means of social intervention. We assume that this is due to a historical view of nurses as "docile elements" that aid in the maintenance of economical structures, and to contemporary educational models. Many contradictions appear with respect to practice, revealing the importance of objective conditions for the improvement of nursing care in the hospital. Nurses and professional schools must understand continuous education as a process with power to change reality, once creative reflections and consciousness of multiples determinants of practice are allowed. This determinants must not be reduced to technicist perspectives. On this basis, competence in health care can be delineated: respecting human space and resisting to market ideology that otherwise wi1l prevail in the lack of critical and political questionin