Uno, Diada e demiurgia no Timeu de Platão

Nesta dissertação, apresentamos e analisamos alguns dos fundamentos hermenêuticos e filosóficos a partir dos quais se propôs um Novo Paradigma de interpretação para a filosofia platônica. O Novo Paradigma representa uma alternativa ao critério hermenêutico tradicional originalmente concebido por F. Schleiermacher - na medida em que não só admite a legitimidade filosófica da tradição indireta dedicada ao platonismo, mas também lhe confere grande importância numa releitura dos diálogos e da filosofia de Platão. A confiar nos textos que compõem aquela tradição, nosso filósofo desenvolveu em lições orais apresentadas no recesso da Academia uma parte do seu pensamento que, por motivos didático-filosóficos, preferiu não registrar nos seus diálogos - ou registrar apenas por remissões e imagens analógicas. No entanto, ao contrário do que se poderia pensar, essas ágrapha dógmata de Platão não parecem ser compostas por elementos negligenciáveis ou de pouca importância filosófica: estariam contidos ali os ensinamentos acerca do que ele considerou os princípios supremos de toda a realidade, uma protologia que nos remete para além dos diálogos, mas, ao que tudo indica, em plena harmonia com eles. Além do estudo dos textos que sustentam a nova proposta interpretativa, apresentamos também uma sua aplicação prática, a partir de uma análise do papel do Demiurgo no diálogo Timeu de Platão. Nossa intenção neste "estudo de caso" do Timeu é lançar as bases de uma hipótese de leitura de um dos vários temas tratados no diálogo, possível apenas com a adoção de parte significativa do instrumental oferecido pelo Novo Paradigma. Em especial, tentamos demonstrar em que medida as operações protológicas supostamente pensadas por Platão podem se tomar valiosas chaves de compreensão tanto da natureza quanto do agir do Demiurgo e do princípio material sobre o qual ele imprime sua marca: a Necessidade, receptáculo de tudo o que devémIn this paper we present and analyze some philosophical and hermeneutic foundations, which helped in the proposal of a New Paradigm of interpretation for the platonic philosophy. The New Paradigm represents an alternative to the traditional hermeneutic criterion - originally developed by F. Schleiermacher - because not only admits the philosophic legitimacy of the indirect tradition dedicated to Plato's philosophy, but also gives him a great importance in a rereading of Plato's dialogues and philosophy. Trusting the texts that take part in that tradition, our philosopher developed in oral lessons presented in the Academy' s break a part of his thought that, for philosophic-didactic purposes, he preferred not to register in his dialogues - or to register only by remissions and analogical images. On the other hand, these Plato's ágrapha dógmata don't seem to be constituted by negligible elements or with little philosophic importance: there were thought related to what he considered the uItimate principaIs of alI the reality, a Protology that address us beyond the dialogues, but, we can notice, a fuIl harmony with them. Besides the texts study that support the new interpretative proposal, we also present a practical application, from an analysis of Demiourgo' s role in the dialogue Timeu of Plato. Our intention in this study of Timeu is to throw the basis of a reading hypothesis of one of the several themes studied in the dialogue, possible only by adopting a significant part of the instrumental offered by the New Paradigm. Specially we tried to demonstrate in what ways the Protology operations supposed1y though by Plato, can become valuable keys for the comprehension of the nature, from Demiourgo' s way of acting and also of the material element where he leaves his marc: the Necessity, receiver of everything that is comin