Mutação do fator V de Leiden e ocorrencia de perdas gestacionais /

O objetivo deste estudo foi correlacionar a presença de trombofilia hereditária com perdas gestacionais. Para isso foram usados dois grupos de mulheres. O primeiro grupo constou de 42 mulheres do Ambulatório de Hemostasia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas com a presença do fator V de Leiden (Grupo 1), e o segundo grupo foi de 94 mulheres do Ambulatório de Planejamento Familiar, sem a presença desse fator de trombofilia hereditária (Grupo 2). Foi estudada a freqüência de perdas gestacionais em cada grupo, na tentativa de estabelecer uma correlação entre a trombofilia e perdas gestacionais, e também com os antecedentes pessoais e familiares de fenômeno tromboembólico. A coleta de dados foi feita através de uma ficha clínica para dados do prontuário, e de um questionário, respondido por entrevista telefônica. Cerca de 88% das pacientes do Grupo 1 pertenciam à raça/cor branca e também 59% das mulheres do Grupo 2. O número de óbitos fetais não apresentou diferença estatisticamente significativa nos dois grupos. No Grupo 1 as mulheres tiveram 109 gestações e no Grupo 2, 223 gestações, evoluindo para abortamento 26% das mulheres do Grupo 1 e 9% das mulheres do Grupo 2, respectivamente. Nos antecedentes pessoais do Grupo 1 predominou a ocorrência de trombose venosa profunda. Já nos antecedentes familiares desse grupo houve maior número de fenômenos tromboembólicos, inclusive com a ocorrência de mais de um episódio na mesma pessoa. A mutação do fator V de Leiden foi diagnosticada apenas na forma heterozigota e também diagnosticaram-se três mulheres com a mutação do gene da protrombina no Grupo 1 na forma heterozigota. Concluímos que a freqüência de abortamento foi significativamente maior nas mulheres portadoras de trombofilia hereditária, que essas mulheres apresentam número elevado de fenômenos tromboembólicos nos antecedentes pessoais e familiares de primeira geração.The aim of this study was to correlate the presence of hereditary thrombophilia with gestational loss. Two groups of women were studied. First group: 42 women with the presence of the Leiden factor V, which were patients of the hematology out patient clinics of Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estudual de Campinas (Group 1). Second group: 94 women without the presence of hereditary thrombophilia, which were patients of the Ambulatório de Planejamento Familiar (Group 2). The frequency of gestational loss was studied in each group to establish a correlation between thrombophilia and gestational loss. Personal and family history of thromboembolic phenomena were also studied in both groups. The data collection was performed by means of a clinic index card for handbook data, in addition to a questionnaire answered through a telephone interview. 88% of the women from Group 1 and 59% of the women from Group 2 were white. There was no statistical difference in the number of fetal deaths between the two groups. Group 1 presented 109 pregnancies, 26% of which were abortions. Group 2 presented 223 pregnancies, 9% of which were abortions. In the personal history of Group 1 the occurrence of deep venous thrombosis was more common than other problems, whereas in the familiar history of Group 1 there was higher frequency of thromboembolic phenomena, with the occurrence of more than one episode in the same person in comparison with Group 2. The mutation on Leiden factor V was diagnosed in the heterozygous form exclusively. Three women of Group 1 were also diagnosed as carriers of prothrombin gene mutation in the heterozygous form. We conclude that the frequency of abortion and of recurrent abortion was significantly higher in women with hereditary thrombophilia. These women present higher number of thromboembolic phenomena in the personal and family history up to the first generation