Os mínimos indícios de comunhão e libertação

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2013Este trabalho parte da observação de que são frequentes nas ciências sociais do Brasil as referências a um catolicismo que se chama de conservador, oficial ou erudito, mas que resultam escassos os trabalhos que efetivamente adotam esse tal catolicismo como objeto de estudo. Mais especificamente, verifica-se que tal catolicismo é usualmente mencionado de modo genérico e, como termo de contraste, para aludir àquilo que se contrapõe ou se diferencia dos grupos, setores e tendências que, sim, se adotam como tema de estudo. Nestes trabalhos, este catolicismo conservador é regularmente caracterizado por seu vínculo com a Igreja-instituição, em especial sua hierarquia, e por isso se supõe controlado por esta em seu funcionamento, obediente enquanto a ortodoxias e ortopraxes e partidário de suas posições políticas. Propõe-se aqui inverter a operação e tomar por objeto este catolicismo dito conservador, erudito ou oficial estudando pontualmente um grupo do movimento Comunhão e Libertação, que explicitamente foi ou pode facilmente ser associado a tais categorias e qualificativos. Através da descrição etnográfica e pontual da prática cotidiana do grupo de Comunhão e Libertação de uma cidade do sul do Brasil, pretende-se questionar o que viria a ser, afinal e num caso concreto, esse catolicismo conservador, erudito, oficial ou institucional que frequentemente se menciona, mas não se estuda. Com isso, espera-se problematizar etnograficamente tais categorias e qualificativos e o modo genérico com que são habitualmente empregadas, estimar seus alcances e limites e evidenciar as nuanças que adquirem num caso concreto. O trabalho procura privilegiar a descrição etnográfica e derivar desta a discussão sobre as categorias, e, além disso, procura estabelecer tais discussões com trabalhos dedicados ao estudo da religião ou da religiosidade baseados igualmente em trabalho de campo. É a partir do contraste com outras descrições que se procura estabelecer os traços relevantes para a caracterização do grupo em questão, destacando-se aí a percepção de uma afinidade entre este movimento e grupos protestantes. Finalmente essa descrição e esta discussão se organizam em quatro eixos temáticos, recortados sobre o material de campo: a família e os modelos de família, a percepção da realidade na leitura do cotidiano e do entorno, o problema da relação entre a racionalidade e a fé, e a relação do grupo e o movimento com a Igreja e o catolicismo. <br>Abstract: This work is based on the observation that in social sciences from Brazil are frequent the references to a so-called conservative, official or erudite Catholicism, but it results in scarce studies that effectively take such Catholicism as an object. More specifically, it appears that such Catholicism is usually referred to generically and as a term of contrast, to allude to whatever opposes or differs from groups; sectors and trends are actually adopted as a subject of study. On these works, this conservative Catholicism is regularly characterized by its link with the institutional Church, especially its hierarchy, so it is supposed to be controlled by the institution in its operation, obedient with orthodoxies and orthopraxis and supporter of its political positions. The paper proposes to reverse the operation and take the conservative, official or erudite Catholicism as an object, by studying specifically a group of Communion and Liberation movement, which explicitly was or can easily be associated with these categories and qualifiers.Through ethnographic and punctual description of daily practice of the group of Communion and Liberation from a city of the south of Brazil, it is intended to question what would finally be and in a particular case, this conservative, erudite, official or institutional Catholicism that is frequently mentioned but not studied. With this, it is expected to ethnographically problematize these categories and qualifiers and the generic mode that are routinely used, to estimate its scope and limitations and to manifest the nuances that are acquired in a specific case. The work seeks to privilege the ethnographic description and derive from this the discussion about categories, moreover, seeks to establish such discussions with works dedicated to the study of religion or religiosity also based on fieldwork. Likewise, it is from the contrast with other descriptions that the work seeks to establish the relevant traits to the characterization of the group concerned, highlighting the perception of an affinity between both the aforementioned movement and Protestant groups. Finally, this description and discussion are organized under four thematic basis, extracted from the field material: the family and the family models, perception of reality in everyday and surrounding comprehension, the problem of relationship between rationality and faith and the bonds between the group and the movement with Church and Catholicism