A cérvice uterina da adolescente: estudo da prevalência e dos fatores associados ao câncer de colo uterino e suas lesões precursoras em população de adolescentes atendidas em hospital público do município do Rio de Janeiro

O colo do útero é o segundo local mais comum de instalação do câncer entre as mulheres. A associação entre este tipo de câncer e a infecção pelo Papilomavirus humano encontra-se bem estabelecida, sendo a presença do vírus considerada condição necessária, embora não suficiente, para o desenvolvimento da neoplasia. O primeiro contágio pelo HPV ocorre geralmente no início da vida sexual e, como esta idade vem diminuindo, torna-se cada vez mais precoce o risco de surgimento destas lesões. A partir da observação de vários casos de lesões intra-epiteliais cervicais de alto grau (HSIL) em pacientes do Ambulatório de Ginecologia para Adolescentes do Hospital Municipal Cardoso Fontes e, considerando que esta faixa etária não está coberta pelo Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero-Viva Mulher, conduzimos esta pesquisa a partir de duas questões básicas: o estudo da prevalência da HSL e do câncer em adolescentes, e identificação dos fatores associados com a presença dessas lesões.A população de estudo foi constituída por 702 adolescentes de ídades entre 12 e 19 anos completos e com vida sexual ativa, atendidas no período de 1993 a 2002. O delineamento do estudo foi do tipo transversal, sendo o rastreamento feito através da citopatologia e colposcopia e a confirmação do diagnóstico histológico através da biópsia da cérvice uterina.As variáveis de exposição estudadas foram características sócio-demográficas e as relacionadas à saúde reprodutiva, hábitos e comportamento sexual. Os fatores associados à doença do colo uterino foram identificados a partir de análise multivariada realizada através de regressão logística, sendo empregados os programas EPI-INFO e SPSS para construção do banco de dados e a análise estatística.O exame histopatológico revelou a prevalência de 8,4 por cento de lesões intraepiteliais de alto e baixo grau. Houve um caso de câncer invasor. Ao considerar apenas a doença relevante do colo uterino, obteve-se prevalência 3 por cento. A cada nova gestação, a chance de doença relevante do colo uterino em adolescentes foi 2,2 vezes maior. A idade também esteve associada a este desfecho, dobrando a cada ano de idade a chance de adquirir a doença. A alta prevalência de lesões intra-epiteliais cervicais observadas em nosso estudo sugere a importância da inclusão das adolescentes sexualmente ativas no Programa Viva Mulher para detecção e tratamento precoces dessas lesões, evitando o comprometimento da saúde da adolescente