Lidando com tentativas de suicídio em um serviço de emergência: estudo compreensivo de representações e práticas médicas

O pressuposto teórico adotado nesta pesquisa é que os profissionais de saúde apresentam dificuldades no trato dos jovens que cometem o suicídio, porque o suicídio e as tentativas têm uma representação negativa na sociedade brasileira que se estende a estes profissionais. Essa visão negativa se deve à uma visão e a uma ética judaíco-cristã que está internalizada na cultura brasileira. A metodologia deste trabalho priorizou um estudo etnográfico dos atendimentos e uma busca de compreensão da lógica do pensamento e da ação dos profissionais de saúde ao tratar esses casos.Para isso foram realizadas entrevistas com os profissionais de saúde que trabalhem na emergência do Hospital Estadual Getúlio Vargas - RJ e a observação de atendimentos emergenciais de suicídio. A escolha desta unidade deve-se ao fato de existir neste hospital, um trabalho sistematizado de investigação de tentativa de suicídio e suicídio realizado pelos profissionais do serviço social que notificam o evento à Secretaria Estadual de Saúde. São analisadas as fichas de notificação de tentativas de suicídio, com o objetivo de coletar informações sobre os atendidos. Os profissionais entrevistados foram aqueles que costumam realizar o atendimento no Pronto Socorro a esta clientela. No total foram entrevistados 18 profissionais de saúde com experiência no atendimento de casos de tentativas de suicídio e 4 coordenadores do serviço (coordenações da Emergência, Saúde Mental, Enfermagem e Serviço Social). Principais resultados encontrados: o jovem que tentou o suicídio foi descrito, de maneira geral, como um adolescente sem estrutura familiar, com uma certa fragilidade emocional, que tenta o suicídio por causa de desentendimentos amorosos. Estes jovens são bem atendidos no aspecto físico do atendimento. É feito de tudo para reverter o quadro clínico do paciente. Mas o lado humano fica defasado. Esta pesquisa mostra que todas essas representações negativas sobre os jovens e problemas nas sua prática diária podem prejudicar o restabelecimento do jovem na medida que aumentam o sofrimento destes pacientes e seu estigma perante a sociedade. Devido à amplitude do tema, fazem-se necessárias outras pesquisas sobre as representações sociais e as práticas dos profissionais de saúde sobre os jovens que tentaram o suicídio