Infertilidade sem causa aparente: um mais-além da lógica biológica

Esta pesquisa aborda a questão da infertilidade sem causa aparente, apoiada em uma revisão básica da literatura psicanalítica acerca do assunto e em entrevistas com mulheres que se encontravam, na ocasião, em tratamento em um ambulatório de infertilidade da rede pública. considerando-se a hegemonia do discurso e do saber médico acerca da saúde reprodutiva e da sexualidade feminina, assim como as atuais práticas da reprodução assistida, busquei ressaltar pontos, nos quais a relevância de questões subjetivas se inscreve, permitindo um olhar diferenciado sobre o assunto. Centrada na experiência da subjetividade e do desejo, a psicanálise aborda as questões relativas à mulher, e o caráter particular e específico que a gravidez, e diferenciadores na construção da sexualidade e subjetividade feminina. Focalizei alguns núcleos conceituais, a saber, complexo de Édipo/de castração e sexualidade: desejo de filho e gravidez/maternidade, decisivos para a compreensão da dinâmica da construção psíquica da mulher, e que serviram como suporte teórico para o estudo.Tomando os princípios metodológicos das entrevistas preliminares, procurei criar um espaço que possibilitasse às mulheres entrevistadas a emergência de um discurso operacionalizador de uma dinâmica subjetiva que pudesse redimensionar e relançar o enigma da problemática por elas vivida. este recurso técnico mostrou-se eficaz aos propósitos da pesquisa, fazendo brotar a conjugação de sentimentos, lembranças, demandas e queixas, que permitiram o aparecimento de uma trama atualizada transferencialmente em suas vivências cotidianas. A presença de uma demanda diferenciada pode também ser observada, caracterizando a dimensão sintomática de um sofrimento instalado em nível psíquico, e revelando que o desejo explícito por um filho acha-se envolvido por sentimentos e desejos contraditórios e ambíguos enovelados em em suas histórias de vidas