Cesariana: epidemia desnecessária?, a construção da indicação da cesariana em uma maternidade pública do município do Rio de Janeiro

Objetivo entender que fatores influenciam os médicos obstetras na indicação das cesarianas, numa maternidade da rede pública do município do Rio de Janeiro. Em virtude da natureza dos objetivos a metodologia qualitativa foi a opção adotada pelo pesquisador. Através da observação participante e da realização de entrevistas, foram estudadas as representações sociais dos médicos sobre a assistência ao parto e sua associação com as indicações de cesarianas. O autor discute o aumento nas taxas desta cirurgia ocorrido em todo o mundo a partir da década de 70 e de que maneira a realização de cesarianas desnecessárias prejudica mães e recém-nascidos. Na construção do marco teórico são contextualizadas as conseqüências da hospitalização do parto durante os últimos cem anos e as questões de gênero ligadas à assistência ao parto no modelo médico vigente. Além das recomendações técnicas da OMS para esta assistência, as indicações de cesariana e a política oficial em relação à esta cirurgia também são abordadas. As conseqüências para a mulher e para o bebê do modelo de atenção ao parto na maternidade estudada, a influência da formação dos profissionais em sua prática, as lógicas desta assistência, e o modelo idealizado de maternidade são discutidos, confrontando os dados colhidos na observação participante com as entrevistas realizadas. Este trabalho tenta trazer para a discussão sobre as altas taxas de cesariana, não apenas dados numéricos, mas elementos da dimensão intersubjetiva que tanto influenciam sua construção. O autor conclui que vários fatores não obstétricos influenciam os médicos obstetras na indicação das cesarianas, entre eles a ausência de percepção de risco associado à esta cirurgia, o medo de processos éticos e judiciais, a falta de formação para a operatória obstétrica e o próprio modelo de assistência ao parto entre outros