Avaliação da produção do fator de necrose tumoral do tipo alfa (TNT-alfa) em pacientes pediátricos com diagnóstico de sepse

O estudo do Fator de Necrose Tumoral do tipo alfa (TNF-alfa) na fisiopatologia da sepse é prejudicado pela produção intermitente, curta meia-vida plasmática, e rápida indução de mediadores secundários. O quadro clínico só se apresenta quando o TNF-alfa retornou a níveis plasmáticos indetectáveis. A análise da sua produção em cultura, que supera estas dificuldades, evidencia inibição, pela dessensibilização in-vivo dos receptores de endotoxina. Para verificar se tal análise in-vitro permite identificar precocemente anormalidades em pacientes sépticos, estudamos a produção de TNF-alfa, em cultura de sangue total, em pacientes com Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas (SDMOS) e em crianças do ambulatório de Cirurgia Pediátrica, na ausência e na presença de LPS (0.02-2000 ng/ml). Em pacientes sépticos, em geral, mas nem sempre: a) a maior produção de TNF foi em resposta a maior dose de LPS, com resposta máxima bem maior do que a liberação espontânea, nos 5 primeiros dias de internação, enquanto baixas concentrações de LPS provocaram respostas próximas a liberação espontânea; b) a menor indução de TNF foi em resposta a menor concentração de LPS, embora em 80 por cento dos pacientes, em pelo menos um dia, não houvesse TNF detectável com 2 ou 0,02 ng/ml de LPS; c) a resposta mínima ao LPS foi maior do que a liberação espontânea, na maioria dos casos. Algumas culturas foram refratárias ao LPS, ou inibidas por LPS, em pelo menos um dia do estudo. Nos pacientes do ambulatório de Cirurgia Pediátrica, em geral, mas nem sempre: a) a maior produção de TNF foi em resposta a mais alta dose de LPS, com a resposta máxima sempre muito maior que a liberação espontânea (em contraste com os sépticos, LPS em baixas concentrações provocou TNF detectável em todos os pacientes menos um); b) a menor indução de TNF foi pela menor concentração de LPS (em contraste com os sépticos, a resposta mínima foi maior do que a liberação espontânea em 80 por cento dos casos, não sendo observada refratariedade ao LPS nem inibição por LPS. Demonstramos estatisticamente que: a) as diferenças entre os grupos, dentro das limitações da amostra estudada, na produção de TNF não eram explicáveis por diferenças nas idades e na representação amostral dos sexos; b) os resultados com pacientes sépticos nos 5 dias de estudo eram comparáveis; c) há diferenças altamente significativas entre os grupos na indução do TNF por LPS, mas não na liberação espontânea, analisando-se o pool de dados dos 3 primeiro dias, e também analisando-se separadamente cada um dos três primeiros dias do estudo (exceto para 2000 ng/ml LPS, dias 3). Estes resultados confirmam que: a) independentemente do dia de coleta, os pacientes com SDMOS são refratários a indução de TNF pelo LPS, b) as diferenças são suficientemente grandes para serem detectadas em pequenas amostras, e C) a diminuição da resposta ao LPS já pode ser encontrada no primeiro dia de internação