A residência resumida e a residência permitida: a qualidade da residência médica em pediatria discutida por seus docentes

Neste estudo procuramos apreender a qualidade da residência médica em pediatria representada pelos docentes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e do Hospital Universitário Säo Jose da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Optamos por uma abordagem qualitativa, que utilizou as suas falas e ações como instrumentos principais para a coleta de dados através de entrevistas gravadas e da técnica de observação participante. No intuito de servir como referência e contextualizar a representação construída, realizamos um pequeno histórico da evolução da residência médica no Brasil, focalizando especialmente a pediatrica. A representação construída foi confrontada com o discurso das instituições, oficiais e corporativas, que respondem pelo ensino médico no Brasil na intençäo de se verificar a distância existente entre elas. O que percebemos é que a representaçäo da qualidade da residência médica em pediatria está fundamentada sobre o que significa a pediatria e o "ser pediatria" na concepção destes docentes. A derivação imediata disto e que, do ponto de vista do desejado, a residência em pediatria deve contemplar a formação de um profissional com visão social, apto a entender a criança como um universo complexo e em desenvolvimento, sem nunca, entretanto, esquecer a responsabilidade com a capacitação técnico-científica necessária ao pediatra, centrada no raciocínio clínico que privilegia o diagnóstico e a terapêutica. Já se compararmos a configuração determinada pela prática dos docentes participantes desta pesquisa com a residência idealmente presumida, notamos haver uma grande diferença entre elas. De fato, o que há é, de um lado, a residência presumida e de outro, a residência permitida. É exatamente do confronto entre essas duas realidades que surgem as questöes e os principais debates que podem conduzir a qualidade admitida como ideal para a residência de pediatria. A conclusão dessa pesquisa é que: ou bem se admite a residência em pediatria, com sua conformaçäo atual, como adequada aos seus objetivos, hospitalocentrica e preocupada principalmente com a capacitação técnico-científica do profissional que se pretende formar, assumindo ao mesmo tempo que esta se distancia do discurso das corporaçöes e entidades oficiais de ensino médico; ou bem se consideram e se priorizam, de fato, os objetivos oficiais que estão em consonância com a residência presumida e parte-se para uma busca determinada da alteração da configuração atual da residência médica em pediatria, que passa, basicamente, pela "desospitalizaçäo" da mesma e pelo privilégio da comunidade e dos ambulatórios com espaço de formaçäo do residente. Está aberto assim o debat