DEVIRES AUTOBIOGRÁFICOS

Esta pesquisa se concentra sobre a narrativa autobiográfica à luz das diversas perspectivas da crítica contemporânea. Tema que habita, mas sem se deixar reduzir, uma região indecidível onde se reúnem categorias teóricas vindas de diversas disciplinas - como subjetividade, referencialidade, autoria, história, verdade etc - a autobiografia guarda uma atualidade que consiste no fato dela abrir o espaço de uma discussão teórica que entrelaça várias correntes do pensamento contemporâneo. Partindo da constatação da falência dos pressupostos que fundamentam a escrita autobiográfica tradicional - a concepção de um sujeito autônomo, isolado, idêntico a si mesmo; a suposição da existência de uma humanidade que permitiria o intercâmbio de experiências e significados universalmente válidos e a crença de que o eu e a linguagem mantêm entre si uma relação de exterioridade mútua -, esta pesquisa se orienta por questões como: qual a pertinência de se indagar sobre o lugar da autobiografia na produção das narrativas contemporâneas? Haveria ainda uma atualidade do autobiográfico? Em que consistiria o momento da experiência vivida pelo sujeito heterogêneo, não idêntico a si mesmo? Em que bases se estabeleceria o novo pacto entre autor e leitor, após o abalo do campo homogêneo de práticas e valores em que transcorria o comércio simbólico entre os indivíduos? Como entender o lugar do autor/narrador a partir daí? Ou será, como suspeitamos, que a própria idéia de uma tal correlação já não pode mais oferecer nenhum modelo apropriado capaz de dar conta da nova dinâmica de produção e circulação de sentido?This research focuses on the autobiographical narrative as seen through the many different perspectives of modern critique. A subject that occupies an inscrutable realm where theoretical categories from different fields of study - such as subjectivity, referentiality, authorship, history, truth, etc. - meet, the autobiography maintains a topical relevance by starting a theoretical discussion that brings together several different currents of modern thinking. Starting by establishing the collapse of the structure of assumptions underpinning the traditional autobiographical writing - namely, the very idea of an autonomous and isolated individual, identical to itself; the belief in the existence of a humanity that allows for the interchange of universally-valid experiences and meanings; and the view that the I and the language maintain a relationship of mutual exteriority -, this research is guided by such questions as: what is the relevance of asking the place of the autobiography in the new world of contemporary narrative? Would there still be any topicality left in autobiographical literature? What would constitute the experience of the heterogeneous, not- identical-to-itself subject? After the drastic shake-up of the homogeneous ground where the symbolic interchange of usages and values between individuals take place, what would be the basis of the new commerce between author and readers? How is the new place of the author/narrator to be understood? Or would it be that, as we suspect, the very idea of such correlation can no longer offer an appropriate model that explains the new dynamics of production and circulation of meaning