Uma criança com deficiência visual e múltipla : análise da comunicação e interação social

O presente trabalho tem como finalidade descrever e analisar estratégias de comunicação e interação social de uma criança do sexo feminino, com quatro anos de idade no início da pesquisa, com deficiência múltipla; deficiência visual (cegueira congênita), e deficiência física (paraparesia) associadas, com diagnóstico não confirmado de toxoplasmose e citomegalovírus. O caminho para essa identificação é a interação lúdica, em situações de intervenção, realizadas em conformidade com as necessidades e iniciativas da criança. A interação, portanto, passa a ser a via para identificar sinais, por vezes sutis, como formas de expressão que geralmente passam despercebidas. A criança recebia atendimento em uma instituição vinculada à Secretaria Municipal de Saúde de uma cidade de médio porte do Estado de São Paulo. Como a criança tinha receio de receber toque, assim como de tocar objetos desconhecidos, e muita dificuldade para comunicar-se, optou-se pela busca por sinais comunicativos. Esses sinais expressados pela criança quando compreendidos pelo interlocutor, podem favorecer as interações e, por conseguinte, seu desenvolvimento. Ao considerar as vias sensoriais de percepção de que dispõem as pessoas com deficiência visual, esse trabalho busca, em última instância, subsídios para sua efetiva inclusão escolar. A proposta justifica-se pelo fato de que enquanto as imagens visuais são suficientes para a compreensão imediata da criança sem deficiência visual, subsidiada pela integração sensorial fornecida pela visão, a criança com deficiência visual necessita de contextualizações mais específicas. Inicialmente, foi realizado um período de familiarização com a criança, em que se buscou estabelecer interações com ela, visando sua confiança na pesquisadora. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas individuais com a mãe da participante, por meio de ajustes ao instrumento Avaliação Educacional de Alunos Com Baixa Visão e Múltipla Deficiência na Educação Infantil (desenvolvido por Bruno, 2005), aos objetivos da pesquisa e ao vocabulário da mãe, com a finalidade de identificar aspectos do desenvolvimento da criança, bem como seus centros de interesse e situações que gerassem agrado ou desconforto à criança. Posteriormente, foram feitas as sessões de intervenção/proposta de ensino, visando também identificar centros de interesse da criança, bem como sinais comunicativos expressados por ela. Para a análise dos dados foram feitas transcrições das entrevistas individuais com a mãe e a categorização de comportamentos comunicativos da criança durante o período de intervenção (que indicassem agrado ou desconforto). Os resultados apontam para a importância da vocalização aliada ao contato físico como favorecedores da interação e comunicação com e pela criança