Autogestão e tecnologia em cooperativa de catadores/as de resíduo: uma análise intersubjetiva sob a óptica do campo ciência, tecnologia e sociedade

A sociedade atual apresenta nítidas desigualdades, baseando-se na competição e em valores individualistas. Com a proposta de romper com tais valores que resultam no desemprego, em más condições de trabalho e na exclusão social, a economia solidária traz elementos como a solidariedade, a cooperação, a autogestão. Diante desta realidade, destacamos uma classe de trabalhadores/as informais, os/as catadores/as de resíduos, responsáveis pela coleta de cerca de 90% dos resíduos que alimentam as indústrias de reciclagem no Brasil. Além de terem um papel na economia, possuem conhecimentos específicos e habilidades necessárias para identificar, coletar, separar, agregar valor e vender esses resíduos. Este estudo de caso, que abordou a Coopervida, Cooperativa de catadores e catadoras do município de São Carlos-SP, adotou uma abordagem qualitativa e pretendeu, na perspectiva dos/as catadores/as, identificar quais elementos são transformadores e quais são obstáculos para a autonomia no trabalho da cooperativa, com foco na prática da autogestão, no desenvolvimento de tecnologias sociais e no processo de adequação sociotécnica. Em acordo com o referencial teórico apresentado sobre ciência e tecnologia, foi utilizada a metodologia comunicativa crítica, com a realização de grupos comunicativos como técnica de coleta de dados primários. A interação entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa (um cooperado e duas cooperadas) aconteceu pelo estabelecimento do diálogo intersubjetivo em que estes participaram desde a definição da pergunta de pesquisa até a análise dos dados. Como um dos resultados alcançados, identificamos como principal elemento transformador o reconhecimento pelos/as trabalhadores/as da importância da cooperação, da solidariedade, da participação em atividades de formação e da agregação de valor aos resíduos para as práticas autogestionárias e para o avanço da cooperativa rumo à sua autonomia. O desenvolvimento de tecnologias sociais e do processo de adequação sociotécnica pelos/as cooperados/as também foi verificado como um importante elemento transformador para a autonomia no trabalho da Coopervida. Em contraponto, a falta de cooperação de alguns/algumas trabalhadores/as, a comunicação entre os/as cooperados/as que às vezes é truncada, juntamente com a dificuldade em romper com a divisão do trabalho manual e intelectual, expressada na dicotomia entre produção e gestão, são os principais obstáculos para a autonomia da cooperativa, uma vez que tais ações não estão indo ao encontro dos valores da autogestão a que o empreendimento está se propondo a realizar. Relacionamos os temas investigados com o campo Ciência, Tecnologia e Sociedade, por meio da participação dos sujeitos da pesquisa na produção de conhecimentos e na adequação de tecnologias, com o objetivo de superar as desigualdades sociais e a favor das classes historicamente marginalizadas.The current society presents sharp inequalities, based on competition and individualistic values. Aiming to break up with such values which result in unemployment, poor working conditions and social exclusion, the solidarity economy brings elements such as solidarity, cooperation, self-management. Given this reality, we highlighted a class of informal workers, called waste pickers, responsible for collecting about 90% of the waste directed to recycling plants in Brazil. Besides having a role in the economy, the waste pickers have specific knowledge and skills necessary to identify, collect, sort, add value and sell that waste. This case study, focused on the Coopervida, a waste pickers cooperative of São Carlos-SP, adopted a qualitative approach and intended to identify according to the view of the waste pickers, what elements are transformers and what are obstacles for the autonomy in the work of the Cooperative, with a focus on self-management, the development of social technologies and on the process of socio-technical adequacy. According with the referenced theory in science and technology, the critical communicative methodology was used, with the realization of communicative groups as a technique for collecting primary data. The interaction between the researcher and the research subjects (one male and two female members of the cooperative) happened through the establishment of an intersubjective dialogue in which they participated from the point of defining the research question to the data analysis. As one of the results achieved we identified as the main transforming element, the recognition by the workers of the importance of cooperation, solidarity, participation in the activities of formation and adding value to waste to the self-management practices and the advance towards the Cooperative autonomy. The workers development of social technologies and the socio-technical adequacy process was also found to be an important transforming element for the autonomy in the work of Coopervida. In contrast, the lack of cooperation of some workers, the sometimes truncated communication between them, along with the difficulty in breaking up with the division of manual and intellectual work, expressed in the dichotomy between production and management, are the main obstacles to the Cooperative autonomy, since such actions are not directed towards the values of self-management that the venture is proposing to accomplish. We related the themes investigated with Science, Technology and Society field, through the participation of the research subjects in the production of knowledge and in the adequation of technologies with the objective of overcoming social inequality and in favor of the historically marginalized classes