Estudos da ontogenia e da alimentação inicial de larvas de peixes, com ênfase em dourado Salminus brasiliensis (Characiformes, Characidae)

Foram realizadas amostragens em embriões e larvas de dourado Salminus brasiliensis desde as 6 horas após a fertilização (haf) até o 17 dia após fertilização (daf) com o intuito de estudar o desenvolvimento do sistema sensorial, por meio de microscopia eletrônica de varredura e o desenvolvimento estrutural e funcional do trato digestório por meio de análises histológicas e histoquímicas. Do sistema sensorial foram estudados: o desenvolvimento dos olhos, do órgão olfativo, dos mecanorreceptores cefálicos e da linha lateral, e os quimiorreceptores (botões gustativos). Foi observado que os olhos e as narinas se desenvolvem muito precocemente (a partir de 18 horas após a fertilização - haf), seguidos pelos mecanorreceptores cefálicos e das linhas laterais principal e acessória (48 haf), sendo esses tipos de recepção provavelmente os mais usados para alimentação durante essa fase inicial. As papilas gustativas mostraram desenvolvimento mais tardio em relação às outras estruturas sensoriais citadas, com poucas papilas distribuídas esparsamente na região bucofaríngea, sendo observadas primeiramente aos 8 dias após a fertilização. O desenvolvimento morfológico do sistema digestório foi descrito com base nas lâminas histológicas e a funcionalidade desse sistema foi analisada através de colorações histoquímicas. Com 18 haf, o canal alimentar foi observado acima do vitelo. Nessa fase também se constatou um grupo de células que formaria o fígado e o pâncreas. Às 24 haf verificou-se a formação do esôfago e da futura cavidade oro - branquial que, com 48 haf, ficou caracterizada como a boca e faringe. O esôfago e o esfíncter esofágico também se encontravam formados e o canal alimentar continuava como um tubo retilíneo. O reto, válvula ílio-retal e ânus já estavam presentes, assim como o fígado e o pâncreas estavam diferenciados, caracterizados pela observação dos hepatócitos e dos ácinos pancreáticos, respectivamente. Dentes foram observados às 72 haf, bem como dobras no revestimento do reto. Entre as 96 e 120 haf o fígado mostrou-se completamente formado, assim como o pâncreas. Paralelamente, ocorreu a formação e o aumento das dobras da mucosa de revestimento em todo o canal alimentar. A partir do 8 daf, o sistema digestório do dourado encontrava-se completamente formado, possivelmente apto a assimilar nutrientes de dieta formulada. Também foram realizados experimentos avaliando diferentes alimentos para a transição alimentar das larvas de dourado de alimento vivo à alimentação com dieta inerte, a fim de reduzir os custos durante a larvicultura. Os tratamentos com larvas forrageiras X de piau Leporinus obtusidens proporcionaram as maiores taxas de sobrevivência em comparação com os demais tratamentos. Coração bovino e biomassa de artêmia congelada induziram aos piores desempenhos, tanto em regime de co-alimentação, quanto em transição abrupta. Pode ser observado que artêmias vivas usadas no protocolo gradual ou em co-alimentação com ração e, mesmo a ração oferecida diretamente, produzem resultados de sobrevivência muito baixos ao final de 17 dias de experimento, sendo que para em um período curto de tempo, permitiram algum crescimento. Assim, uma dieta ideal não foi identificada para o dourado, especialmente no que tange à quantidade de dieta inerte oferecida, que evite altas concentrações de amônia ao mesmo tempo que atenda às necessidades nutricionais e sejam atrativas para esses peixes durante a larvicultura. O último experimento da tese relaciona-se com técnicas de marcações radioativas de alimentos com C14 para avaliar os efeitos da introdução precoce de dieta inerte na digestibilidade e metabolismo lipídico de larvas de peixes (com a utilização do linguado senegalense Solea senegalensis). Foram monitorados a ingestão de presas, o crescimento e a sobrevivência após a aplicação de um regime alimentar padrão com alimento vivo (ST) e um regime de co-alimentação com a substituição de artêmia por dieta inerte (Art R). Além disto, foram feitos testes usando artêmias enriquecidas com duas diferentes emulsões lipídicas, contendo glicerol tri [1-14C] oleato (TAG) e L-3- fosfatidilcolina-1,2-di-[1-14C] oleoil (PL), aos 9 e 17 dias após a eclosão (DAE) para estudar a utilização de lipídios. A co-alimentação não afetou a taxa sobrevivência das larvas de linguado (ST 59.1 15.9 %; Art R 69.56 9.3 %), mas refletiu significativamente em menores pesos finais aos16 DAE (ST 0.71 0.20; Art R 0.48 0.14 mg). Maiores taxas de ingestão de presas foram observadas em larvas de linguado alimentadas com artêmia enriquecida com PL marcada aos 9 DAE, mas não aos 17 DAE. Aos 17 DAE, as larvas menores (tratamento Art R) ingeriram proporcionalmente mais artêmias em percentagem de peso, independentemente do enriquecimento. Aos 9 DAE a digestibilidade lipídica foi igual entre os tratamentos e maiores que 90%, enquanto aos 17 DAE esta foi mais alta no tratamento ST (cerca de 73 %) comparado ao grupo Art R (cerca de 66 %). A retenção lipídica aos 9 DAE foi mais alta no tratamento Art R, alcançando valores de 50 %, enquanto esses valores quase duplicaram aos 17 DAE, acima de 80 % nos dois tratamentos sem diferenças significativas. Estes resultados sugerem que a co-alimentação de dieta viva e inerte desde a primeira alimentação em linguado senegalense tem um efeito XI prejudicial em termos de crescimento e digestibilidade lipídica, mas não parece comprometer a utilização metabólica de lipídios.Samples were carried out on embryos and larvae of dourado Salminus brasiliensis from 6 hours after fertilization (haf) until the 17th day after fertilization (daf) in order to study the development of sensory system, by scanning electron microscopy, and on the structural and functional development of digestive tract by histological and histochemical analysis. From the sensory system were studied: the development of the eyes, the olfactory organ, the cephalic mechanoreceptors and the lateral line mechanoreceptors and chemoreceptors (taste buds). It was observed that the eyes and the nostrils develop very early (from 18 haf), followed by the cephalic mechanoreceptors and by the mechanoreceptors of the principal and secondary lateral line (48 haf). These types of senses are probably the most used for feeding during this initial phase. The taste buds showed a later development compared to the other sensorial structures cited, and were first observed sparsely distributed along the bucopharynx at 8 daf. The morphological development of the digestive system was described based on histological slides and its functionality was analyzed by histochemical staining. At 18 haf, the gut was observed dorsally to the yolk-sac. At this phase were also observed a group of cells that would form the liver and the pancreas. At 24 haf were verified the formation of oesophagus and the future orobranchial, which were characterized as mouth and pharynx at 48 haf. The oesophagus and the oesophagic sphincter were also defined and the gut remains as a straight tube at 48 haf. The rectum, ileo-rectal valve and anus were already present, as well as the liver and pancreas were differentiated, characterized by the hepatic cells and pancreatic acini, respectively. Teeth were observed at 72 haf, and folds were seen in the rectum epithelium. Between 96 and 120 haf the liver and pancreas showed complete development. In the same time, folds appeared and increased in number on the mucosal wall of the entire intestine. From the 8 daf, the digestive system was completely developed, possibly able to absorb the nutrients of a formulated diet. Experiments were also conducted in order to evaluate different feeds for weaning the dourado larvae from live feed onto inert diet, aiming at to reduce the costs during the larviculture. The treatment using piau Leporinus obtusidens as prey promoted the higher survival rates compared to the others. Bovines heart and frozen artemia biomass induced to the worst performances in both co-feeding regime and in abrupt regime. Artemia used as live feed in both XIII regimes, and even inert diet offered directly, produced very low survival results along 17 days of trial, but at in a short term, could allow some growth. Therefore, an ideal diet was not identified to dourado, specially concerning to inert diet amount offered that avoid high concentrations of ammonium as the same time that reaches the nutritional requirements, being also attracting to these fish during the larviculture phase. A last experiment of this thesis is related to techniques for radioactive labeling of food with C14, used for monitoring the effects of early introduction of inert diet in lipid digestibility and metabolism of sole Solea senegalensis. Larval feed intake, growth and survival were also monitored in larva reared on a standard live feed regime (ST) and co-feeding regime with inert diet (Art R). Trials using sole larvae fed with Artemia enriched with two different lipid emulsions, containing glycerol tri [1-14C] oleate (TAG) and L-3-phosphatidylcholine-1,2-di-[1-14C] oleoyl (PL), were performed at 9 and 17 days after hatching (DAH) to study lipid utilization. Co-feeding did not affect sole survival rates (ST 59.115.9%; Art R 69.569.3%), but was reflected in significantly smaller final weight at 16 DAH (ST 0.710.20; Art R 0.48 0.14 mg). Higher feed intake was observed in sole larvae fed on Artemia enriched with labeled PL at 9 DAH but not at 17 DAH. At 17 DAH, the smaller larvae (Art R treatment) ingested proportionally more Artemia in weight percentage, independently of enrichment. At 9 DAH lipid digestibility was equal among treatments and higher than 90%, while at 17 DAH it was higher in ST treatment (around 73%) compared to the Art R group (around 66%). Lipid retention efficiency at 9 DAH was higher in the Art R treatment, reaching values of 50%, while these values almost duplicated at 17 DAH, ranging up to 80% in both treatments without significant differences. These results show that co-feeding of live feed and inert diet from first-feeding in Senegalese sole has a toll in terms of growth and lipid digestibility but does not seem to compromise lipid metabolic utilization