Acessando a importância de características estruturais e da configuração espacial de remanescentes lineares para conservação

Globalmente, as florestas tropicais estão experimentando um aumento na taxa de perda de habitat maior do que qualquer outro ecossistema. A fragmentação florestal e perda de habitat causam diversas alterações na paisagem como aumento do isolamento entre remanescentes florestais, diminuição do tamanho dos remanescentes e substituição da floresta nativa por áreas agrícolas. Estas alterações na paisagem tem consequências drásticas, no que se refere a perda de espécies e disrupção de processos ecológicos, como alteração nas interações planta-animais, o que leva a alterações no funcionamento do ecossistema. Dessa forma, a sobrevivência a longo prazo das espécies em florestas tropicais depende de uma rede de remanescentes com um elevado nível de conexão, seja por meio de corredores de vegetação ou através de matrizes com alta permeabilidade. Assim, a conectividade da paisagem e as características estruturais dos remanescentes florestais são componentes-chave para a manutenção de espécies e processos ecológicos em paisagens fragmentadas e por isso, precisam ser melhor compreendidos. Desta forma, nosso estudo avaliou a influência de um conjunto de variáveis - relacionadas a características de fragmentos e conectividade estrutural - a nível de comunidade (composição, estrutura e diversidade), sob uma perspectiva funcional e por fim, a um nível de interação, considerando as espécies arbóreas com dispersão zoocórica. Mais especificamente, nosso objetivo foi avaliar o efeito das características estruturais e configuração espacial dos remanescentes lineares sobre essas variáveis para guiar estratégias de conservação relacionadas à importância e ao design de corredores de vegetação em paisagens fragmentadas, uma vez que poucas informações estão disponíveis. Para a análise de diversidade funcional, consideramos três índices: riqueza funcional, equabilidade funcional e divergência funcional. Consideramos como traços funcionais, àqueles relacionados à senibilidade das espécies à fragmentação, como tamanho do corpo, tamanho da prole, dieta e locomoção. Para as espécies arbóreas, consideramos o tipo de dispersão e o tamanho dos frutos e sementes. Nosso estudo foi realizado em uma área de Floresta Atlântica localizada no sudeste do Brasil. Amostramos cinco áreas, dentre: 1) interior de fragmento controle, 2) borda de fragmento controle, 3) remanescente lineare conectado à floresta controle, próximo a área de conexão, 4) remanescente linear conectado à floresta controle, distante da área de conexão e 5) remanescente linear não conectado. Para análise de dados, construímos modelos mistos e utilizamos o critério de informação Akaike para selecionar os melhores modelos. Nossos resultados mostraram que tanto a distância dos remanescentes lineares em relação à floresta contínua como a composição da matriz, influenciaram significativamente a maior parte dos atributos analisados. Por exemplo, a composição e estrutura de pequenos mamíferos se diferenciou nos tratamentos a medida que a distância a floresta controle aumenta. Além disso, tanto a conexão dos remanescentes lineares como a matriz circundante, influenciaram a abundância de indivíduos zoocóricos, bem como a abundância de indivíduos com frutos secos e carnosos de diferentes tamanhos, mais do que características estruturais dos remanescentes. Remanescentes lineares circundados por matrizes agrícolas abrigaram elevada abundância de generalistas e de indivíduos com baixa sensibilidade a fragmentação. Além disso, nossos resultados mostraram pela primeira vez que a diversidade funcional de pequenos mamíferos pode ser deteriorada mais pela influência de espécies exóticas do que pelas características estruturais e conectividade dos remanescentes florestais. Assim, concluímos que a implantação de remanescentes lineares em paisagens fragmentadas precisa ser cuidadosamente avaliada. A matriz do entorno dos remanescentes lineares deve ser considerada/manejada quando avaliamos o design dos corredores de vegetação em paisagens fragmentadas. Os remanescentes lineares conectados a fragmentos de maior tamanho devem ser considerados como prioridade para conservação em relação aos fragmentos isolados. Finalmente, concluímos que se adequadamente manejados os remanescentes lineares podem funcionar como importantes componentes para a conservação e precisam ser considerados em futuras decisões de conservação em paisagens onde eles já existem.Tese apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada, área de concentração em Ecologia e Conservação de Recursos em Paisagens Fragmentadas e Agrossistemas, para a obtenção do título de Doutor