Sabe-se que, ao ganhar expressão na obra de Hegel, a dialética ainda terá uma repercussão decisiva no debate contemporâneo. Amostra disso é a sua recepção no seio da tradição fenomenológica inaugurada por Husserl, e que tem, nas figuras de Sartre e de Merleau- Ponty, duas referências emblemáticas. Meu objetivo, aqui, consiste em fazer um sumário balanço dessa herança conceitual nas mãos desse último autor. Quer dizer: partindo da própria matriz hegeliana, ao situar o seu alcance e os seus limites, trata-se de cortejar a inflexão operada pela noção merleau-pontyana de “hiperdialética”, ou seja, uma “dialética sem síntese”. O que Merleau-Ponty retrata é o reconhecimento, na dialética, de uma atitude “autocrítica” no sentido de que ela não pod...