A coleta dos resíduos em Buenos Aires: um trabalho da era global

Em Buenos Aires (Argentina), a recuperação dos resíduos recicláveis trouxe à luz novas dinâmicas de trabalho e organização econômica e social, intrinsecamente ligadas aos processos de metropolização ocorridos na década de 1990. Desde o final da crise de 2001, essa atividade se perpetua, questionando, ao mesmo tempo, as condições para seu registro sustentável nos territórios metropolitanos. Partindo da hipótese de que a recuperação consiste em um trabalho da era global, será uma questão de destacar suas características e as dificuldades que os atores da metrópole encontram para consolidá-la dentro dos marcos político-administrativos existentes. De fato, tanto sua precariedade quanto seus métodos inovadores estão ligados ao seu duplo enraizamento nos territórios locais e nas redes econômicas e de informação globais, o que torna possível defini-la como uma atividade híbrida. Nessas condições, a inserção na dinâmica metropolitana desfoca a dicotomia entre a globalização "de cima" e "de baixo" definida para diferenciar os circuitos formais e informais. A recuperação dos resíduos no século XXI surgiu da concentração do investimento estrangeiro direto, do aumento dos contrastes socioeconômicos e das transformações morfológicas de Buenos Aires. Mas ela também não existiria se não funcionasse em uma intensa informalidade, conforme as redes de capilaridade. Os catadores e os gestores urbanos são, portanto, forçados a criar acordos para considerar as novas problemáticas sociais, econômicas, ambientais e territoriais desta atividade. A expressão mais interessante e inovadora desse processo é o surgimento da seleção de resíduos recicláveis como um serviço exclusivo de primeira classe para os territórios metropolitanos mais do que como um serviço básico para toda a aglomeração.À Buenos Aires (Argentine), la récupération des déchets recyclables a mis à jour de nouvelles dynamiques de travail et d’organisation économique et sociale intrinsèquement liées aux processus de métropolisation intervenus dans les années 1990. Depuis la fin de la crise de 2001, cette activité s’est pérennisée, interrogeant par la même occasion les conditions de son inscription durable dans les territoires métropolitains. En partant de l’hypothèse que la récupération consiste en un travail de l’âge global, il s’agira de mettre en évidence ses caractéristiques et les difficultés que rencontrent les acteurs de la métropole pour la consolider dans les cadres politico-administratifs existants. De fait, autant sa précarité que ses modalités innovantes sont liées à son double ancrage dans les territoires locaux et dans les réseaux économiques et informationnels globaux, ce qui permet de la définir comme une activité hybride. Dans ces conditions, l’inscription dans les dynamiques métropolitaines brouille la dichotomie entre la mondialisation « par le haut » et « par le bas » retenue pour différencier les circuits formels et informels. La récupération des déchets au XXIe siècle est née de la concentration des investissements directs étrangers, de l’accroissement des contrastes socio-économique et des transformations morphologiques de Buenos Aires. Mais elle n’existerait pas non plus si elle ne fonctionnait pas selon des réseaux capillaires, et dans une profonde informalité. Les récupérateurs et les décideurs urbains sont donc amenés à inventer des arrangements pour prendre en compte les enjeux sociaux, économiques, environnementaux et territoriaux nouveaux de cette activité. L’expression la plus intéressante et novatrice de ce processus est l’émergence de la sélection des déchets recyclables comme un service exclusif de première classe pour les territoires métropolitains plus que comme un service de base pour toute l’agglomération.Waste Picking in Buenos Aires : Working in the Global Age - In Buenos Aires (Argentine), waste picking revealed new socio-economical and working dynamics strongly linked with metropolization processes in the years 1990. Since the crisis of 2001, this activity embedded itself in the metropolitan territories, conveying a series of interrogations. From the hypothesis of waste picking as a work of the global age, the article aims at identifying the characteristics of the activity as well as the difficulties the metropolitan actors find in strengthening it inside the existing politico-administrative frame. As a matter of fact, both its instability and innovation root into local territories and global economic and informational networks, which allows us to speak of a hybrid activity. In those conditions, its embeddedness in metropolitan dynamics scrambles the dichotomy between globalization “from upside” and “downside” that is usually called in in order to distinguish the formal and informal circuits. Waste picking in the XXIth century was born from External Direct Investments concentration, from the increasing socio-economical contrasts and the morphological transformations in Buenos Aires, but also from its capillarity and informality. Waste pickers and urban decision-makers are led to invent new arrangements in order to take into account the new social, economic, environmental and territorial stakes of the activity. The most interesting expression of this process is the emergence of recyclable waste selection as an exclusive and first class service for the metropolitan territories more than a basic service for the whole agglomeration