Urbanização e novas relações cidade-campo: os processos com a criação do estado do Tocantins e de sua capital Palmas na Amazônia Oriental

A criação do estado do Tocantins, sua inserção na Região Norte do país, na porção oriental da Amazônia, e a implantação de sua capital Palmas, em 1989, são fundamentais para a urbanização, tanto na escala do espaço urbano (sobretudo o de Palmas) como na da rede urbana regional, que passa a ser comandada pela capital. Palmas não resulta de práticas socioespaciais espontâneas, mas de ações intencionais ligadas ao primeiro governo estadual, que optou por implantar uma cidade para sediar o aparato político-administrativo. Neste contexto, as novas relações cidade-campo principiam-se com a conflituosa desapropriação de terras rurais que, incorporadas ao urbano, generalizam-se como mercadoria por ação dos governos estaduais. Outros agentes foram adquirindo e reservando terras com interesse especulativo: os proprietários rurais, evidenciando a transferência de capitais gerados no campo, as empresas construtoras e os incorporadores e promotores imobiliários, ratificando a transferência de capitais regionais que se estenderam a outros setores da economia urbana. Há também a transferência de populações do campo e de outras cidades, movidas pela atração sobre a população regional. Mais recentemente, tem-se o agronegócio, que estabelece novas relações envolvendo articulações entre os espaços urbano, rural e regional, com investimentos extraordinários no setor imobiliário e em outros setores da economia urbana. Trata-se de mecanismos para a realização da acumulação de capital, seja no setor imobiliário, seja no complexo funcional urbano, que passam a atrair excedentes do campo e excedentes regionais. Esses alteram o plano urbano original e o padrão precedente da rede urbana, evidenciando as novas relações cidade-campo e os novos processos urbano-rural-regional, que exigem interpretações mais complexas, que serão abordadas brevemente neste artigo.La création de l’Etat du Tocantins, son insertion dans la Région Nord du pays, dans la partie orientale de l’Amazonie, et l’implantation de sa capitale (surtout celui de Palmas) comme celui du réseau urbain, qui est désormais dirigé par la capitale. Palmas ne résultent pas de pratiques socio-spatiales spontanées, mais d’actions intentionnelles liées au premier gouvernement d’État, qui a choisi fonder une ville pour accueillir l’appareil politico-administratif. Dans ce contexte, les nouvelles relations ville-campagne commencent par l’expropriation conflictuelle de terres rurales qui, incorporées à l’urbain, se généralisent comme marchandise par l’action des gouvernements étatiques. D’autres agents ont été l’acquisition et la réservation de terres avec un intérêt spéculatif: les propriétaires ruraux, mettant en évidence le transfert de capitaux générés dans le domaine, les entreprises de construction et les transporteurs et les promoteurs immobiliers, en ratifiant le transfert de capitaux régionaux qui s’est étendu à d’autres secteurs de l’économie urbaine. Il y a également le transfert des populations de la campagne et d’autres villes, déplacées par l’attraction sur la population régionale. Plus récemment, on a créé l’agrobusiness, qui établit de nouvelles relations impliquant des liens entre les espaces urbain, rural et régional, avec des investissements extraordinaires dans le secteur immobilier et dans d’autres secteurs de l’économie urbaine. Il s’agit de mécanismes pour réaliser l’accumulation de capital, que ce soit dans le secteur immobilier ou dans le complexe fonctionnel urbain, qui attirent des excédents de la campagne et des excédents régionaux. Ceux-ci modifient le plan urbain initial et le schéma précédent du réseau urbain, en mettant en évidence les nouvelles relations ville-campagne et les nouveaux processus urbain-rural-régional, qui exigent des interprétations plus complexes, qui seront abordées brièvement dans cet article.The founding of Tocantins state, its inclusion in Brazil’s North Region (more specifically, within Eastern Amazon), and the implementation of its capital city, Palmas, in 1989, were major factors of urbanization in the area, both with regard to urban space (particularly that of Palmas) and urban network, which became spearheaded by Palmas. This city has not developed from spontaneous social and spatial practices but, rather, from deliberate actions on the part of the first state government, which decided to implement a city with the purpose of housing the state’s political and administrative apparatus. Within this scenario, new city-countryside relations have evolved from the conflictive expropriation of rural lands which, once incorporated into the urban space, are generally viewed as merchandise due to the actions of state administrators. Other agents have gradually acquired and reserved lands for speculation; these include rural landowners, who transfer capital generated in the countryside, and construction companies and real estate developers and promoters, who extend the transference of regional capital to other sectors of the urban economy. A transference of people from the countryside and other cities has also ensued, the result of a pull factor on the regional population. More recently, agribusiness has triggered new relations among urban, rural, and regional spaces, fostering enormous investment within the real estate sector and other segments of the urban economy. These are all mechanisms that aim to accumulate capital, whether in the real estate sector or in the urban functional structure, hence attracting surpluses from the countryside and the wider region. These surpluses have changed the original urban plan and urban network standards, consequently revealing new city-countryside relations and urban-rural-regional processes which call for more rigorous analyses. Addressing such issues is this study’s central aim