Neoliberalismo, trabalho e sofrimento psíquico : reflexões para não perder de vista o desejo

A partir de uma retomada histórica das condições de emergência e desenvolvimento do neoliberalismo, o presente trabalho propõe que pensemos modelos socioeconômicos como projetos de gestão do sofrimento na contemporaneidade, em que é preciso agenciar modificações estruturais em nossas formas de compreender e vivenciar o mal-estar psíquico, principalmente no campo do trabalho. Observa-se que o cenário crescente de precarização das condições de trabalho e de contradições dos modelos organizacionais resulta em diversas violações sociais, que incorrem em importantes consequências psíquicas aos sujeito que trabalham. Lançando luz à dimensão de denúncia que porta o sofrimento, por meio de uma escrita híbrida que transita entre a reflexão teórica e a redação de cartas, este trabalho busca distinguir o sujeito causado como efeito contingente pela linguagem da subjetividade produzida pelos dispositivos de poder do neoliberalismo. Dessa forma, entende-se que o enfrentamento do mal-estar passa necessariamente pela problematização do laço social (sem deixar de lado o olhar sensível à singularidade de experiências e desejos que habitam cada sujeito), possibilitando uma discussão crítica acerca dos instrumentos de categorização do sofrimento, bem como do horizonte das práticas de intervenção clínica