A identidade do imigrante judeu nos romances de Moacyr Scliar

Esta tese pretende desenvolver um percurso analítico e crítico através de um conjunto de obras de temática judaica do escritor brasileiro Moacyr Scliar, focando-se principalmente nas construções e desconstruções identitárias que advêm no processo imigratório. Moacyr Scliar dedicou-se durante sua vida a uma prolífera carreira literária que abrange diferentes temáticas, bem como gêneros. Para atingir nosso objetivo selecionamos um corpus restrito, mas representativo de dez romances e, a partir de um estudo comparativo, pretendemos demonstrar como, por meio de uma escrita irónica, é possível fundar uma descrição histórica que visa manter uma memória cultural do povo judeu imigrante no âmbito da ficção brasileira contemporânea, de modo lúcido e original, suscitando o riso do leitor: um riso grave que leva à reflexão. De maneira complementar, pretendemos analisar o processo de assimilação ou de estranhamento cultural para verificar se é condicionado ou discriminado pela própria origem. Os romances analisados no presente trabalho são: A guerra no Bom Fim, O exército de um homem só, Os deuses de Raquel, O ciclo das águas, Os voluntários, A estranha nação de Rafael Mendes, Na noite do ventre, o diamante, Os leopardos de Kafka, A Majestade de Xingu e Eu vos abraço, milhões, ou seja, as obras que retratam o desconforto das personagens diante de situações que ferem a dignidade humana. Neles, a recriação paródica e irónica de eventos trágicos relevantes na história europeia ao longo dos séculos – como a Inquisição Ibérica, o tráfico de prostitutas e de seres humanos, o pogrom ou o nazismo – e eventos relevantes da História do Brasil, são procedimentos literários utilizados para filtrar a perspectiva histórica, propondo uma dessacralização, um distanciamento e uma distorção da história oficial. Scliar cria uma visão crítica dos fatos e do mundo, voltada para situações que desrespeitam os direitos prioritários da humanidade e sente a necessidade de expô-los ao leitor, cuja missão é refletir, sorrindo, sobre a tragicidade de tais eventos. As experiências da autocrítica judaica, da automutilação e da sabotagem dos próprios protagonistas são manifestações de humor e, simultaneamente, processo de diminuição de dor que eles vivem constantemente. Trata-se, portanto, de um humor crítico, ácido, usado com a intenção de agredir as duas sociedades, a de origem e a de chegada. Ao mesmo tempo, propor-nos-emos, também, uma reflexão acerca da importância da memória, particularmente presente nos relatos das personagens como meio para refletir sobre o passado, criando uma ligação especialmente afetiva com as próprias ascendências.Il presente studio propone di sviluppare un percorso analitico e critico attraverso un insieme di opere riguardanti la tematica giudaica dello scrittore brasiliano Moacyr Scliar, concentrandosi principalmente nella costruzione e decostruzione identitaria che avviene durante il processo immigratorio. Durante la sua vita, Moacyr Scliar si dedicò a una prolifera carriera letteraria sviluppando, nei suoi libri, diverse tematiche e generi. Partendo da un corpus selezionato, ma rappresentativo di dieci romanzi e comparandoli tra di loro, pretendiamo dimostrare come, attraverso una scrittura ironica è possibile creare una descrizione storica che pretende conservare, nella narrativa brasiliana contemporanea, la memoria culturale del popolo ebreo immigrante. Tale descrizione è trattata in modo lucido e originale, suscitando un triste sorriso che conduce a una profonda riflessione. In modo complementare, analizzeremo il processo di assimilazione o di distanziamento culturale per verificare se è condizionato o discriminato dalla propria origine. I romanzi scelti per svolgere questo studio sono: A guerra no Bom Fim, O exército de um homem só, Os deuses de Raquel, O ciclo das águas, Os voluntários, A estranha nação de Rafael Mendes, Na noite do ventre, o diamante, Os leopardos de Kafka, A Majestade de Xingu e Eu vos abraço, milhões, ossia romanzi che descrivono lo sconforto dei personaggi dinanzi a situazioni che feriscono la dignità umana. In questi romanzi la creazione parodica e ironica di avvenimenti tragici della Storia Europea, accaduti nel corso dei secoli – come l’Inquisizione Iberica, il traffico di prostitute e di essere umani, i pogrom o il nazismo – e avvenimenti rilevanti della Storia del Brasile, sono procedimenti letterari utilizzati per filtrare la perspettiva storica, proponendo una desacralizzazione, un distanziamento e una distorsione della storia ufficiale. Scliar crea una visione critica dei fatti e del mondo, riportando situazioni che non rispettano i diritti prioritari dell’umanità e sente la necessità di esporli al lettore, la cui missione è riflettere, sorridendo, sulla tragicità di tali eventi. Le esperienze di autocritica giudaica, di automutilazione e di sabotaggio dei protagonisti sono manifestazioni di humor e, simultaneamente, un processo di diminuzione del dolore che vivono costantemente. Si tratta, dunque, di un humor critico, acido, usato con l’intenzione di aggredire le due società, quella di origine e quella di arrivo. Proporremo, anche una riflessione sull’importanza della memoria, particolarmente presente nei discorsi dei personaggi come mezzo per poter riflettere sul passato, creando un legame particolarmente affettivo con le proprie ascendenze